2008-02-03

De: David Afonso - "Feira do Livro"

Submetido por taf em Sábado, 2008-02-09 13:04

Praça da Liberdade

[Fonte da foto]


Tal como temia, a feira do livro deste ano vai ficar instalada nos Aliados em contentores. Será admissível que um certame destes com 78 anos de história se veja agora numa situação de homeless? Quanto a mim, não. O Palácio de Cristal já era acanhado pelo que se impunha uma nova alternativa, que estaria ali mesmo ao lado, nos jardins, e os Aliados acabam também por ser uma opção válida. Em todo o caso, há que pensar em alternativas futuras porque com a transformação do Rosa Mota num multiusos (e consequente privatização) a Feira do Livro corre o risco de perder em definitivo a casa onde habitou nos últimos anos.

Entretanto, insiste-se em atulhar com tralha a Avenida e Praça. Se um dos desígnios históricos da Câmara foi a erradicação das barracas, agora até parece que o desígnio é armar barraca na praça. Custa-me ver os Aliados transformado numa espécie de bidonville ao sabor das festividades de cada época. O local e o Porto mereceriam um pouco mais de respeitabilidade. A solução ideal seria a de se encomendar ao arquitecto Siza Vieira um projecto para equipamento amovível a ser utilizado nestas situações. Seria uma excelente oportunidade para o arquitecto dar alguma coerência à Praça, já que a ocupação que tem vindo a ser feita tem desvirtuado o espírito do seu projecto. Em suma, queria ver o Siza a desenhar umas barracas para os Aliados e acabar o que começou (se é que o trabalho de um arquitecto alguma vez tem um fim, sobretudo nos espaços públicos).

A edição 2008 da Feira do Livro do Porto tem a vantagem de estar desfasada alguns dias da Feira do Livro de Lisboa. Sempre achei que a sobreposição das datas era prejudicial ao Porto já que este acabava por ser visto como m evento de ordem local ou, na melhor das hipóteses, regional. Seria necessário mudar de estratégia para podermos competir pela atenção e disponibilidades dos autores, dos editores, dos livreiros, da comunicação social e, sobretudo, dos consumidores. E essa estratégia passa por seguir o exemplo de Braga e sair da sombra de Lisboa, adoptando um calendário alternativo. Por exemplo, em termos comerciais faria todo o sentido encostar a Feira do Livro ao período do Natal ou se a ideia fosse a de transformá-la num evento regional de expressão nacional e – porque não? – internacional, seria de a associar às festas da cidade, antecedendo o S. João, período do ano em que recebemos muitas visitas. Outra solução seria antecipar um mês a feira do Porto, assim o último dia da feira do Norte seria o primeiro da feira de Lisboa, pelo que as novidades editoriais seriam dadas a conhecer em primeira mão no Porto. Enfim, existirão decerto outras opções, todas elas válidas desde que permitam que a nossa feira deixe de ser uma extensão da feira do livro de Lisboa. Para terminar, uma última questão: Será do interesse do sector livreiro, do Porto e do consumidor que as feiras continuem a ser organizadas pela mesma entidade? Pois eu acho que não nos devemos contentar com uma versão pobre da Feira de Lisboa e para a APEL o Porto será sempre e apenas a outra feira. Se isto não é um beco…

PS: Uma turma do Filipa de Vilhena está a competir no "Concurso Cidades Criativas" com um trabalho sobre a Miguel Bombarda. Não deixem de consultar ambos os links. Há por aí sangue novo a pensar a cidade.

David Afonso
davidafonso @quintacidade.com

De: Nuno Camilo - "Comunicado"

Submetido por taf em Sábado, 2008-02-09 12:55

Comunicado: Associação dos Comerciantes do Porto está ligada ao ventilador

  • - A Associação dos Comerciantes do Porto - ACP era a responsável na cidade do Porto pela gestão de todo o processo da iluminação de Natal e pela animação da cidade na mesma quadra, foi retirada a gestão e passou para a empresa municipal Porto Lazer. O que denota falta de capacidade para gerir tal dossier que era feito há muitos anos, mas todos constataram que não foi tomada nenhuma posição por parte da direcção ACP, agiu como se não tivesse ocorrido nada;
  • - O presidente da Associação de Bares da Zona Histórica do Porto (ABZHP) recusou qualquer envolvimento da Associação de Comerciantes do Porto (ACP) no projecto de instalação de câmaras de videovigilância na zona central da cidade, parece de todo lamentável a falta de iniciativa da ACP, e que venha agora para os jornais “mendigar” para entrar no projecto;
  • - No que refere ao dossier Mercado do Bolhão, o presidente Alcino Sousa já lançou duras críticas à presidente da ACP – Laura Rodrigues, pois não percebe como só quando as decisões estão a ficar tomadas se lembrou de aparecer;
  • - Três funcionários deixaram de pertencer ao quadro de pessoal da ACP, um quarto funcionário tem um vínculo laboral de part-time e acumula funções de Técnico Oficial de Contas da ACP, não me parece um situação muito correcta. Como se justifica que anteriormente eram necessários os três funcionários e duma só vez podem ser dispensados;
  • - O gabinete de arquitectura continua nas instalações da ACP, se existe necessidade de fazer cortes, devemos ser coerentes e cortar o que realmente é acessório;
  • - Os associados da ACP não tem acesso às contas do Comércio Vivo (só directores da ACP e do Comércio Vivo, tem acesso às mesmas);
  • - A Casa do Comerciante em Dezembro de 2005 “tinha” que ser aprovada pela direcção em funções, até ao momento ninguém mais ouviu falar do projecto. Porque será?

Acresce que numa direcção que tinha sete elementos e demitem-se cinco, solicita-se uma Assembleia Geral extraordinária, que preenche todos os requisitos legais e não se marca, algo de mal se passa? A actual Associação dos Comerciantes do Porto, não tem rumo, nem projecto, navega completamente à deriva. Faltam ideias, imaginação e acima de tudo motivação para os desafios que se avizinham. A Associação dos Comerciantes do Porto limita-se a cobrar quotas, servir refeições (serviço de restauração nas instalações da ACP) e a prestar serviços médicos.

Os comerciantes precisam e merecem uma liderança que faça rupturas com o passado e desenvolva um projecto que envolva todos em geral e os comerciantes em especial.

Por tudo isto, como ex-director da ACP tenho legitimidade para “convidar” a Presidente e a sua direcção a pedirem a demissão, pois tem que se devolver o prestígio e a alma à Associação dos Comerciantes que já teve no passado.

Nuno Camilo
Ex-Director da ACP

De: Vitor Pereira - "A Alma não se vende!"

Submetido por taf em Sexta, 2008-02-08 15:21

Desde pequeno que me dizem que no centro temos a Alma. O mesmo se passa com as cidades, é no seu coração que encontramos a sua Alma, a sua história, a sua cultura, ... O Porto não é diferente. É no seu coração que está a Av. dos Aliados, a Torre dos Clérigos, o Coliseu, o Rivoli, a Sé, a estação de S. Bento, e não poderia faltar o seu Bolhão.

Pois este Bolhão que tem andado nas bocas do meio povo, e não pelas melhores razões. Diz-se então que o edil da cidade pretende vender este símbolo do Porto, uma parte da sua Alma. Que pretende transformar um espaço de comércio aberto, num centro comercial (mais um!). Não fosse isto afronta suficiente, ainda quer deixar algum espaço para habitação. A desculpa é sempre a mesma, a de querer fazer renascer a Alma do nosso Porto.

Já por várias vezes referi Covent Garden, como exemplo de um futuro auspicioso para o nosso Bolhão. É claro que não faz sentido, para mim e nos dias que correm, um mercado simplesmente virado para o comércio tradicional. Sou da opinião de um Bolhão dado àqueles que usufruem da Baixa do Porto, um espaço de convívio e de comércio, um espaço disponível durante o dia e durante a noite, um espaço versátil e que se adapte às necessidades, um espaço que seja capaz de atrair os transeuntes. Um Bolhão com estas características seria capaz, penso eu, de atrair mais gente à sua envolvência, mais população à Baixa do Porto e mais "fregueses" ao comércio tradicional.

Assim proponho: um Bolhão virado para a Cultura, com animação cultural diversificada durante todo o ano; um Bolhão para o convívio e negócio, com cafés, salões de chá e restaurantes (não McDonald's ou outras lojas de fast food); um Bolhão para a diversão, com alguns bares que estando num espaço amplo dentro de 4 paredes não criam os incómodos que existem na Ribeira; um Bolhão tradicional, com pequenas lojas de comércio (floristas, ...); um Bolhão com um exterior mais moderno (em termos de lojas), aí sim com uma ou outra loja de fast food (sem luminosos), com cafés, com muito comércio; no fundo um Bolhão plural, actual, moderno e tradicional.

Vítor Pereira

De: TAF - "Alguns apontadores"

Submetido por taf em Sexta, 2008-02-08 11:48

De: TAF - "O projecto para a Praça de Lisboa"

Submetido por taf em Quinta, 2008-02-07 02:15

De: Cristina Santos - "Apontadores"

Submetido por taf em Quarta, 2008-02-06 12:24

De: Paula Morais - "Gestão urbana negociada"

Submetido por taf em Terça, 2008-02-05 23:15

Caros participantes

Após algum tempo de “hibernação” aqui do Baixa, e cativada pelos recentes comentários e notícias relacionadas com as concessões a privados do Bolhão, do Bom Sucesso, do Ferreira Borges e outros espaços públicos da Cidade, retomo a minha participação com umas breves reflexões acerca desta nova maneira de agir em matéria de políticas públicas urbanas que utilizam a negociação como recurso de gestão. Reflexo dos actuais processos de governação, cada vez mais descentralizados e com maior número de interlocutores, e em que, cada vez mais, com fundamento na ausência de recursos, se questiona sobre se o Estado e instituições públicas devem continuar a ser os órgãos de poder definidores e executores dessas políticas ou se devem deslocar essas “funções” tradicionais, passando a ser órgãos coordenadores e “mediadores” dos diferentes agentes, interesses e lógicas envolvidos no processo de gestão urbana, o procedimento negocial surge como instrumento frequentemente utilizado para a gestão daquele que é o suporte de grande parte das políticas urbanas, o património cultural imobiliário.

Confrontados com os espaços públicos e a memória colectiva de um lado, as referências simbólicas e a sua preservação de outro, e ainda com o desenvolvimento territorial e a necessária revitalização económica, social e urbana por outro, os municípios apresentam-se hoje em dia como importantes agentes de concertação de interesses (muitas vezes conflituosos e antagónicos). Sendo, como li algures, “os códigos de comportamento, os rituais de comemoração, ou ainda, as manifestações de protesto formas de construção e de preservação da memória local”, as “tradicionais” políticas de gestão do património cultural urbano e as estratégias de preservação e reabilitação operadas pelas entidades públicas têm, assim, de passar por uma revisão profunda, suportando-se em parâmetros de actuação de co-responsabilidade do cidadão e da sociedade, ou seja, em decisões e acções partilhadas que incluam negociações e parcerias. Contudo, para que exista a tal co-responsabilização é também imprescindível que existam ainda outras mudanças: mudanças a nível metodológico, a nível legal-administrativo e a nível institucional, que auxiliem na “mediação” entre Estado e sociedade, permitindo consolidar negociações e parcerias, e incentivando assim uma maior integração das comunidades interessadas nos programas políticos.

A nível metodológico, os conceitos-chave da gestão urbana negociada são, sem dúvida, as especificidades locais, a sustentabilidade e a informação. Previamente a uma negociação é fundamental proceder-se a diagnósticos de investigação e impacto social, que se constituirão em linhas de programas urbanísticos participativos (para os quais é necessária, como aqui referiu Alexandre Burmester, informação pública transparente), e assim se passar para as fases seguintes de elaboração, execução e manutenção dos projectos urbanos.

A nível legal-administrativo, se a regionalização como forma de descentralização ainda tarda a chegar, o Simplex já foi introduzindo algumas mudanças: por exemplo, a introdução da contratualização nos procedimentos de elaboração de Planos de Pormenor, que podem agora ser despoletados por privados, ou o recentíssimo Código dos Contratos Públicos, que incluí na lista de procedimentos para a formação de contratos públicos, o procedimento por negociação e o designado de diálogo concorrencial.

A nível institucional, por sua vez, já não é raro ouvir falar de comissões técnicas de acompanhamento de projectos públicos urbanos, de equipas multidisciplinares, entre outras formas organizativas de difusão de parcerias entre os órgãos públicos e as comunidades locais. Inclusive, e como consequência de uma certa “politização” de alguns projectos técnicos/arquitectónicos, o próprio papel dos técnicos projectistas, urbanistas e outros profissionais do urbanismo está também a sofrer alterações, surgindo designações como por exemplo os “chefs de project” ou os médiateurs sociaux franceses, que são figuras jurídicas encarregadas da interlocução e negociação entre os administradores públicos, os parceiros e a comunidade, estabelecendo cronogramas, agendas de trabalho, entre outras tarefas de coordenação.

Por último, e como já é um hábito meu, refiro um exemplo de aplicação deste novo conceito de gestão negociada aplicada à revitalização urbana, que partilha de um contexto e de objectivos semelhantes aos da cidade do Porto: reabilitar um centro urbano “negligenciado, com o seu património construído degradado, equipamentos públicos insuficientes e cuja população abandonou o centro”, com uma, cada vez maior, limitação de recursos.

- O Plano Estrutural de Preservação da Cidade de Montpellier, que inclui o projecto de reabilitação estrutural da área de Gambetta/Figuerolles, e que teve início em 1994, na sequência de esta cidade se preparar para fazer 1000 anos. A cidade milenar de Montpellier preparou um projecto global e escalonado de reabilitação urbana do seu centro centrado, principalmente, na beleza do seu património cultural, tendo como slogan: “À Mille Ans La Ville Est Belle” – “La Petite Surdouée se Passionne Pour Le Progrès”. A par do programa de reabilitação do edificado histórico da área central Gambetta/Figuerolles, o município, através de formas contratualizadas e de parcerias negociadas, implementou também o projecto Montpellier-Technópole, cujos principais objectivos se constituíam em dotar o centro da cidade de equipamentos públicos rejuvenescidos e rejuvenescedores e com capacidade de atrair novos utilizadores. Começaram assim a ser executados diferentes projectos, de diversas magnitudes, de forma escalonada e criteriosa, seguindo um plano espacialmente definido e debatido, por sua vez orientado por uma nova distribuição de funções outrora existentes no centro da cidade, agora carecidas de serem deslocalizadas dos seus locais originais, mas mantendo-se na mesma no centro.

Mobilização, debate público, e compromisso legal (contratualização) foram alguns dos conceitos que presidiram a transformação, nesta cidade francesa, da ainda persistente estrutura piramidal das habitualmente designadas “decisões urbanísticas de gabinete” numa interessante cadeia de acordos urbanísticos negociados.

Paula Morais
Arquitecta

De: Correia de Araújo - "Pontos de vista"

Submetido por taf em Terça, 2008-02-05 23:02

Espero que o projecto de reabilitação da Praça de Lisboa corra pelo melhor, isto é, sem abaixo-assinados contra... e sem acções populares contra. Trata-se de uma reconversão com concessão por 50 anos, que irá acolher, ao que julgo saber, a maior livraria do país (Byblos), com mais de 150 mil títulos.

É na questão da "maior livraria do país" que reside o meu receio, fundado na expectativa de que venham a surgir, de imediato, os costumeiros "alérgicos"... sim, aqueles que vêem fantasmas onde eles não existem... aqueles para quem o Porto deve permanecer simplesmente como a sua (deles) terrinha. Neste caso concreto, serão até capazes de vislumbrar que uma pilha com mais de 150 mil livros tem, seguramente, mais altura que a própria Torre dos Clérigos... o que não pode ser! (atenção IGESPAR!).

Aproveito ainda a notícia do DN para constatar que...
"concluída a intervenção, o vidro ocupará, em parte substancial, o lugar do granito. As antigas lojas do Clérigos Shopping, voltadas para a praça interior, estavam escondidas a quem passava nas ruas em redor. Agora, graças às paredes de vidro da nova livraria, a zona comercial torna-se transparente, abre-se para o exterior".

Dito isto, verifico então que o anterior projecto merece, hoje, sérios reparos... projecto esse que, presumo eu, foi na altura elaborado também por Arquitecto. Isto só para lembrar que nesta história das obras públicas mal estruturadas, mal dimensionadas, mal elaboradas, mal..., mal..., a culpa não é só dos políticos (que não são, certamente, quem elabora os projectos... quando muito, encomendam-nos). Há até exemplos em que o Presidente da Câmara é Arquitecto... e não é líquido, nem plausível, assegurar que, por esse facto, o urbanismo e as questões que lhe estão associadas são, neste caso, melhor tratadas.

Correia de Araújo

De: TAF - "Parece que é mesmo Carnaval"

Submetido por taf em Terça, 2008-02-05 22:52

- Metro pela Boavista atrairá mais 245 passageiros/hora do que Campo Alegre
- Linha por Valbom tem mais procura mas é mais cara
- Ligação directa a Vila d'Este atrairá mais de mil por hora

Para quando a publicação do estudo na Internet? Já não nos chegam os tristes episódios da Ota, em que a informação teve de ser arrancada a ferros?

PS: Já agora, o projecto original da Linha da Boavista, ainda antes destas novidades dadas por Rui Rio, está aqui.

De: TAF - "Apontadores"

Submetido por taf em Segunda, 2008-02-04 22:31

De: Pedro Bismarck - "Petição e afins - a cidade para quê?"

Submetido por taf em Domingo, 2008-02-03 23:04

Apenas para informar que está já disponível [ver site do manifestobolhão], uma petição disponível na Internet e no próprio Mercado do Bolhão [nas bancas dos comerciantes] para entregar na Assembleia da República contra a demolição de todo o interior do Mercado do Bolhão.

Volto a referir que do meu ponto de vista e penso que daqueles que assinam esta petição, pretende-se, sobretudo, salvaguardar o interesse patrimonial, histórico e urbano do edifício. Requalificar o Bolhão sem que ele perca os seus aspectos mais atractivos: ser um Mercado e ser um ícone cultural e turístico - uma marca da cidade (e potencialmente bem rentável). É pura ilusão pensarmos que vamos de facto resolver o problema da Baixa com um sem número de shoppings (âncoras como lhes chamam na CMP), e que isso é que é ser europeu e ser contemporâneo. Manter o Bolhão como está mas introduzir novas valências, nova lojas de produtos biológicos, pequenos restaurantes, estender a oferta, criar um polo de produtos "frescos" para portuenses e visitantes, mantendo a configuração actual do mercado. A solução do Bolhão já lá está mas, como diz o arquitecto Alexandre Burmester, parece ser difícil ser simples por aqui.

Não se trata de embirração (lá estão aqueles tipos sempre contra tudo...), a requalificação é necessária, ninguém duvida. Trata-se sim do nosso dever de participar no projecto global daquilo que queremos que seja a nossa cidade. Uma cidade diversificada, renovada, competitiva, culturalmente atractiva, mas que mantenha os seus ícones, o seu património, as suas tradições, a sua marca. Após o fracasso das décadas urbano-demolidoras dos grandes planos da modernidade, percebeu-se que as cidades são corpos vivos, dinâmicos, activos, muitas vezes de génio improvável. Não são riscos num papel, nem cores num mapa, mas sim substratos activos de coisas, de fluxos, de matérias, de tempo. A cidade não é apenas um aglomerado de casas, mas uma rede solidária de vontades, de projectos colectivos, elas são aliás a história materializada desses projectos; o museu mais profícuo da nossa identidade, do nosso ser, daquilo que construímos, daquilo que ambicionámos e desejámos outrora. É este o potencial e a lição histórica das cidades e do Porto e por isso o nosso dever duplo de as sabermos construir mas também preservar.

Fica o dever de participar e construir a nossa cidade e que este corpo diversificado e complexo não se transforme num simples projecto politico-económico de um qualquer.

Pedro Bismarck [opozine]

PS. Para aqueles que mantêm as dúvidas aqui ficam alguns links para conhecer melhor o projecto da empresa TCN:

- O Bolhão e o projecto da TCN [opozine]
- Promotora diz que demolição do interior do Bolhão é uma "inevitabilidade" [JPN]
- Mercado do Bolhão [TCN]

Vem isto a propósito da actual situação das escarpas de Gaia, que estando na ordem do dia, bem podia há muito mais tempo ter sido sujeita a uma intervenção, e não necessitar de se ter chegado aqui.

Quando do trabalho apresentado e ganho do concurso da Ponte do Infante, há 10 anos atrás, e porque de uma ponte se tratava, isto é ligava as duas margens, não deixámos de nos preocupar em propor para Gaia uma intervenção nas suas escarpas.

Proposta para Gaia


Daí nasceu uma ideia em conjunto com a Arq.ª Laura Costa para a transformação destas encostas num Parque urbano central, e cujas considerações se transcreve:

De: TAF - "Metro enterrado na Boavista"

Submetido por taf em Domingo, 2008-02-03 18:50

Acabei, por acaso, de ver um excerto de um programa que está a passar na RTPN. Entrevistaram Rui Rio e ele disse que a Linha da Boavista teria que ser enterrada (em trincheira) num de 3 locais: Fonte da Moura, Marechal ou Bessa. Isto é uma novidade interessante!

(PS: Tenho aqui posts pendentes sobre outros assuntos, logo que tenha tempo serão publicados.)

PS 2 - Duas sugestões de leitores do blog:

De: Alexandre Burmester - "Para quê simplificar se podemos complicar?"

Submetido por taf em Domingo, 2008-02-03 12:49

Vem o título a propósito das opções mirabolantes que os políticos teimam em tomar, quer seja para mostrar serviço, quer seja para mostrar a sua visão grandiosa e futurista.

No caso do Bolhão, uma simples reabilitação do actual edifício, seja nos usos seja em alguns simples conceitos, seria mais do que suficiente para a sua reconversão e devolução ao comércio tradicional e ao espaço da cidade.

O Jornal de Notícias dá hoje conhecimento do chumbo do IPPAR (e bem), à fantástica solução de transformar uma possível ligação entre as diferentes cotas do centro histórico de Gaia, através de uma solução típica de uma qualquer estação de ski. Confesso nem entender qual a lógica, qual a viabilidade e qual a mais-valia turística, quando se impõe na paisagem do Património uma estrutura daquela natureza. Infelizmente soluções simples são mais eficientes, e mais típicas de povos evoluídos e menos de certos protagonismos em que teimam os nossos dirigentes.

Em 2001, no âmbito do estudo de uma ponte pedonal entre Porto e Gaia, dei-me ao trabalho de propor à Câmara de Gaia a possibilidade de ligação entre as diferentes cotas da Zona Histórica, através de uma solução simples, e que ainda promovia a reabilitação dos antigos percursos pedonais existentes. Dessa solução transcrevo aqui parte do seu conteúdo:

"A travessia provocada pela ponte dará lugar a um percurso natural entre as marginais do rio, estabelecendo uma ligação entre as duas zonas históricas, e dando lugar a um uso essencialmente turístico. Tirar partido desta ligação, quer para os usos residenciais quer ainda para outros percursos turísticos, obrigará a repensar os eventuais percursos pedonais existentes de Gaia e estabelecer outros, para que no conjunto possam proporcionar as ligações convenientes.

Não foi intenção deste estudo fazer o levantamento destes percursos, apenas se faz referência por um lado à sua existência, e por outro pretende-se chamar a atenção para a sua Reabilitação. Caracterizam-se por caminhos lajeados de fortes inclinações, e ainda por diversas escadarias de cantaria. Desenvolvem-se nas escarpas de Gaia, e em locais privilegiados quer de vistas como de acessibilidades a espaços urbanos e a edifícios outrora com outras classificações. Servem actualmente a pouca comunidade residencial, encontrando-se na sua maioria em deploráveis condições físicas. Na maioria dos casos estes percursos são interrompidos por vias mais recentes, perdendo a sua continuidade.

Seria de todo importante reestabelecer a sua ligação e promover a sua utilização. A sua Reabilitação seria um passo importante para uma Renovação da zona histórica. Se por um lado estariam a criar melhores condições de habitabilidade, por outro promoviam a descoberta de uma parte da cidade esquecida. A sua excepcional localização e as suas vistas particulares, assim como alguns dos edifícios que aqui se encontram, seriam apetência suficiente para promover uma procura e poderem vir a ser reabilitados.

… Aproveitando um terreno devoluto e em estado de abandono, propõe-se a sua utilização como base de charneira para as ligações a promover. Situando-se na plataforma de chegada da Ponte D. Luís, apresenta-se este terreno a uma cota mais baixa que as envolventes e com uma ligação directa com a marginal através de um túnel sob a via automóvel. O percurso de saída da ponte termina no mesmo enfiamento deste túnel, e propõe-se a criação neste ponto de um atravessamento com a ligação a este terreno. Nele poderia ser instalado um ponto de turismo e algum pequeno equipamento de animação e apoio do tipo quiosque ou café. Desenvolver-se-ia numa cota superior do terreno formando remate aos actuais muros, e serviria ainda de ligação a outro equipamento que se propõe, na transformação do edifício existente e em ruínas. Este edifício com alguma qualidade Arquitectónica, e com uma excepcional localização de vistas, poderia vir a servir como um pequeno museu da zona histórica de Gaia e das suas actividades, equipamento aglutinador da sua história e das actividades a promover.

A partir destes equipamentos e da sua excepcional localização, poderá no local deste terreno vir-se a resolver a ligação entre as cotas altas e baixas de Gaia. Propõe-se a inclusão de um elevador cuja altura não necessitará de ultrapassar a da ponte D. Luís e que do ponto de vista estético e plástico em nada conflituará com as pré-existências. Esta ligação permitirá estabelecer uma relação directa entre a Av. da República e a marginal, conduzindo as populações ribeirinhas até ao actual centro urbano e ainda interligando-o com a futura ligação do Metro de superfície no tabuleiro superior da ponte D. Luís. Permitirá ainda o estabelecimento da ligação turística entre a marginal e a Serra do Pilar, com a particularidade que um percurso desta natureza poderá proporcionar.

A partir da charneira proposta, outros percursos poderão ainda ser explorados, quer através de cotas sobrelevadas como na relação com as áreas a montante da Ponte. São apontados nas peças desenhadas, a possibilidade de exploração de trajectos sobre as encostas, que poderiam vir a servir outras áreas habitacionais adjacentes, como também estabelecer percursos panorâmicos de elevada qualidade.

Proposta para Gaia


Mas para quê simplificar, se podemos ser sempre tão originais e arrojados? O que mais temos por essas repartições fora são projectos mortos nas gavetas, seja porque não há viabilidade económica, seja pela constante demasiada criatividade patente nos nossos dirigentes."

É muito difícil ser simples.

Alexandre Burmester

De: Rui Pereira - "Pontos de vista"

Submetido por taf em Domingo, 2008-02-03 11:27

Sou um jovem estudante de Engenharia e foi com enorme alegria que, por mero "acaso", descobri este blog (forum). Queria deixar alguns pontos de vista em relação à cidade e aos temas quentes do momento, visto que, em primeira análise, as minhas opiniões são divergentes em relação à maioria participativa no blog.

AVENIDA DOS ALIADOS:

Foi uma intervenção bastante criticada, que eu sempre defendi, acho que o resultado final está deslumbrante (eu sei que opiniões há muitas), mas... não foi para isto que eu idealizei a intervenção nos Aliados. Está de facto, lindo, mas quem olha do Palácio das Cardosas para cima vê um enorme monte de... nada! Não há movimento, não há cor, não ha alegria. Zero. O que fará um turista nos Aliados? ... Nada! (ou então levanta dinheiro numas das muitas ATM). Quando muito vai ao McDonalds. Faltam esplanadas, bares, lojas movimentadas, hotéis, "souvenirs", etc... É isto que embeleza a cidade e lhe dá movimento, não são os bancos ou os poucos cafés de aspecto muito duvidoso. Eu sei que o capital domina as opiniões mas, se as coisas forem bem negociadas, a cidade sai claramente a ganhar.

MERCADO DO BOLHÃO:

Sou completamente a favor da reconversão do mercado. Esta reconversão passa por demolir o seu interior. Sim, demolir. Obviamente, a traça original do edifício terá de ser mantida, bem como todos os edifícios da Baixa classificados pelo IPPAR. De outro modo, e por aqui passa a minha ideia, o Mercado do Bolhão não poderá de modo algum deixar de ser o Mercado do Bolhão. Shopping? Claramente NÃO! Quem já teve a oportunidade de visitar Londres, de certo lembrar-se-á de um edifício que faz parte de todos os roteiros da cidade, o Covent Garden. Posso dizer que, para mim, é o sítio onde melhor me sinto em Londres. A primeira vez que lá entrei, há uns 4 anos, pensei: "mas que raio, e nós com um mercado bem maior que este no Porto e está para lá a apodrecer aos bocados. Adorava um dia ver o meu mercado assim". Agora que a discussão está mais do que acesa esta seria uma alternativa a colocar em cima da mesa. Infelizmente não tenho qualquer poder para o fazer.

A VIDA NO PORTO:

Qualquer grande cidade que tem por objectivo afirmar-se no exterior, necessita de vida nocturna na Baixa... de qualidade ressalvo eu! A do Porto anda muito próximo do Zero absoluto. Desde que abriu o Plano B e mais recentemente a Casa do Livro que frequento com maior assiduidade a noite da Baixa, o que me levou rapidamente a retirar uma conclusão. Porque não converter aquelas duas artérias dos Clérigos (R. da Galeria de Paris e R. Cândido dos Reis) numa zona de bares, de qualidade acima da média (mantendo a fasquia dos que lá se encontram instalados). As duas ruas são relativamente largas para peões, aprazíveis, de cara lavada e onde há pouca ou nenhuma habitação e o comércio existente faz já muito pouca razão de existir. Obviamente, este crescimento tem de ser acompanhado muito de perto por... SEGURANÇA!

É so mais uma opinião/sugestão.
Rui Pereira