De: F. Rocha Antunes - "Reabilitar é preciso no Grande Porto"

Submetido por taf em Segunda, 2006-10-09 12:51

Caros Tiagos

A ideia de reabilitar é importante mas não a única. Vale a pensa reabilitar sempre que fizer sentido, mas há muitas vezes em que isso não só não faz sentido como não é economicamente viável.

Nós somos uns exagerados, já se sabe, e achamos que tudo o que tem mais de 50 anos, na dúvida, é para reabilitar. E como as dúvidas são o modo de vida de muita gente, espera-se que, um dia, alguém diga se realmente se deve reabilitar ou não e até lá quem quiser que espere. Não nos importa nada que entretanto a cidade fique meia em ruínas, que se desertifique, que economicamente se afunde, porque, na dúvida, é melhor não deixar demolir.

Os que estiverem a achar que agora sou eu que estou a exagerar espreitem para este mapa (PDF 1,4MB) e depois digam-me se ainda acham exagero. Decidiu-se que metade do Porto é classificado, o que do ponto de vista patrimonial não podia estar mais correcto. O problema é que ninguém parou um segundo para medir as consequências disso nos próximos 20 anos. Seguramente que daqui a 200 anos toda a gente vai concordar que foi a decisão certa, mas ate lá como vivem os portuenses que têm casas ou negócios na zona?

As imposições de regras em nome do património são sempre justas para a colectividade e injustas para os directamente visados. E não há forma de não o serem. Mas para isso a comunidade deveria assumir as suas responsabilidades e criar condições para que os directamente atingidos pudessem sair da situação em que ficam. E isso já não é feito. Mais uma vez somos rápidos a definir aos outros o que é bom para todos mas à custa desses outros.

Nenhuma metrópole pode desenvolver-se sem mobilizar todas as suas energias de forma criativa. E isso implica que tem de existir espaço para reabilitar o que tem de ser reabilitado, de construir de novo onde fizer sentido, e tudo nas doses adequadas à vitalidade da economia metropolitana.

A afirmação da Junta Metropolitana do Porto é um primeiro passo, ainda muito tímido, para que o Noroeste seja definitivamente centrado na Invicta. Falta imensa coisa que está ao nosso alcance, como o fim das guerras de protagonismo na Universidade, a coordenação estratégica entre Gaia e os concelhos da margem direita do Douro, o aparecimento efectivo de uma Autoridade Metropolitana de Transportes que leve a concorrência do transporte urbano a Gondomar e aos restantes concelhos reféns de concessões vetustas, a afirmação do projecto intermunicipal da Circunvalação, o fecho do anel rodoviário exterior, a segunda fase do Metro do Porto sem linha da Boavista, a elaboração do plano de urbanização da Defense do Porto na zona industrial de Ramalde, a afirmação dos corredores ambientais como qualificador comum dos espaços urbanos das várias cidades que compõem o Centro, etc.

Não é por falta do que fazer que nos vamos aborrecer.

Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário
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Nota de TAF: eu há pouco expliquei-me mal. Escrevi "reabilitação", quando devia ter escrito "renovação da Baixa", ou semelhante. Não queria defender a manutenção "fundamentalista" dos edifícios, concordo que por vezes a demolição poderá ser a melhor solução.