De: Pedro Figueiredo - "Rendas altas, arquitectos e outras cenas - para que servem?"

Submetido por taf em Terça, 2013-12-03 11:49

Cadeia da Relação e Mosteiro de São Bento da Vitória

RENDAS -Na Baixa de Lisboa tem acontecido isto:
“A nova lei das rendas e o forte interesse de marcas de luxo internacionais pelas zonas históricas das cidades já está a ter impacto no imobiliário nacional. Em Lisboa, são vários os espaços comerciais que já estão fechados ou a fechar, porque não conseguem pagar as rendas atualizadas ou porque foram despejados para dar lugar a escritórios, hotéis, casas ou lojas de luxo com rendas bem mais altas que as atuais.”

E na baixa do Porto? Também.

Políticas abstractas têm consequências concretas. A nova lei das rendas é uma fortíssima intervenção do Estado a favor da gentrificação das cidades. Nada mau para os Liberais que advogam que o Estado – Não – não pode nem deve, por Zeus, intervir onde quer que seja, a não ser para apoiar os que já podem, confirmando a hegemonia social.

Quem pode, pode. Quem não puder é e será despejado. Não falamos portanto só de velhinhos sequer, dos quais se pode sempre dizer, com toda a lata e despudor, que são “inquilinos que exploram proprietários” cujos “senhorios que se substituem ao Estado na acção social”. Deliberada e perversa distorção do que era a antiga lei das rendas… em que ao menos não era esta hecatombe que nos entra pela vida dentro sem qualquer retorno. De todo a nova lei das rendas também não serve para promover a reabilitação urbana. Uma que ao menos inclua “as pessoas” que não queiram ser postas borda fora. E o que faremos acerca isto: nada?

ARQUITECTOS COMPATÍVEIS OU NÃO – talvez a resposta que o Pulido Valente almeja tenha a ver com uma solução de anonimato na entrega de projectos. Como num concurso, se os projectos entregues à Câmara o fossem através da Ordem – mediadora – que se encarregaria da relação institucional, branqueando entretanto a autoria, talvez acabasse a relação humana (que é o verdadeiro problema no fundo: haver uma…). Se não se souber sequer quem entregou certo projecto, que remédio terá o “técnico” (raio de nome) da CMP que avaliar o projecto apenas e tão somente pela lei e pelo bom senso, sem qualquer outra informação de identidade, visto que a não possui… Claro que a moeda de troca é uma certa despersonalização e desumanização. Mas o que queriam? Os tais almoços pagam-se. A única coisa que o técnico da CMP saberia é que o projecto é de Arquitecto inscrito e que cumpre as normas requeridas. ue é o que à sociedade interessa tão somente, para o bem e para o mal.

Em Espanha julgo que existe um pouco este processo, mas relativamente à relação arquitecto/cliente: os clientes contratualizam com o "Colégio dos Arquitectos" e este se encarrega da boa cobrança para o Arquitecto. Limpinho e institucional. Em Portugal nós Arquitectos andamos sempre com as calças na mão para que nos paguem, e sempre com esta coisa de estarmos sozinhos no mundo deitados e sempre sós na altura, partindo do princípio que a Ordem ainda pode um dia vir a servir para alguma coisa (“eventos” / “eventos” / comissários de exposições / “defender a arquitectura”/ blá blá).

De resto: “Tanto Arquitecto a emigrar, tanta baixa por reabilitar” “Tanto Arquitecto/Operário sem trabalho / Tanta casa sem Projecto”.