De: TAF - "Ó JPV!"

Submetido por taf em Terça, 2013-11-12 23:40

O problema parece-me simples de resolver. Mas, ponto prévio, repare-se que o mesmo se poderia dizer de qualquer outra pessoa, em qualquer outra circunstância em que tenha de tomar decisões em nome do interesse público. Em vez do filho poderia ser o primo, o amigo, a amante, o colega de partido... Qualquer pessoa tem relações sociais que não desaparecem com a tomada de posse do cargo, e há sempre alguma delas que poderia em teoria beneficiar de comportamento menos ético do decisor.

Além disso, cada pessoa tem uma história de vida que fala por si. Se fosse um novato, totalmente desconhecido, poderia haver razões pelo menos para prudência acrescida. Neste caso concreto o vereador do Urbanismo é uma figura bem conhecida do seu meio, tanto quanto sei prestigiada e sem razões para suspeita de ser corrupto, ou potencialmente corrupto. A reputação, pelo menos para mim, vale algum crédito de confiança.

Mas há mais: se as decisões tomadas forem tornadas públicas junto com a respectiva fundamentação, de forma totalmente transparente, torna-se difícil esconder, e sustentar, comportamentos condenáveis. Se se tratar de alguma ilegalidade, isso é detectado imediatamente. Se for apenas comportamento eticamente duvidoso, apesar de legal, o decisor colocava-se numa situação muito difícil para si. Vejamos um exemplo imaginário. Um promotor imobiliário, "amigo" do vereador, adquire um edifício para reabilitar junto a um jardim pouco cuidado na Foz. O vereador, a troco da contratação do filho para fazer o projecto de arquitectura da renovação desse edifício, decide que o jardim em causa vai ser reabilitado (valorizando a propriedade), em vez de usar os mesmos recursos para outros jardins mais necessitados em Campanhã. Para um caso destes é quase impossível obter provas para condenação judicial, mas a condenação política (mesmo entre os seus colegas no Executivo) é inevitável.

Por isso, a menos que se acredite numa teoria da conspiração em que todo o Executivo faça parte da mesma teia de interesses inconfessáveis, não vejo como seria possível uma situação destas acontecer sem consequências para o decisor corrupto, como a destituição do cargo ou outra mais grave. É que afinal estamos num meio pequeno e, se a informação for toda pública, há sempre alguém que descobre o que se passa. ;-)