De: Pedro Figueiredo - "Reabilitação - Arquitectura - Arquitectos - tudo low-cost"

Submetido por taf em Sábado, 2013-01-12 21:21

Edifícios

Foto: arquitectura de autor high-cost “encavalitada” por cima de bairro camarário low-cost

1 – SENSATEZ E RACIONALIDADE. Na reabilitação de edifícios antigos deve-se compreender que o sistema construtivo é que manda. Primeiro, há que “escolher” o “sistema construtivo” que se pretende para a intervenção, conforme a uma estimativa adequada ao cliente, uma crítica cultural à cidade, uma vontade expressiva do arquitecto.

2 – RESPEITAR A LÓGICA DE CADA SISTEMA CONSTRUTIVO. Evitar de todo o sistema construtivo pilar/viga em betão que “pesa” e desrespeita a pré-existência, fere eventuais paredes mestras em alvenaria pré-existente, torna-se ”desadequado“. Na minha opinião, reabilitar edifícios antigos no Porto faz-se, com razoabilidade, sensatez e racionalidade, misturando o sistema construtivo (1*) “leve” de construção seca tradicional com o sistema construtivo (2*) “leve” de construção seca contemporâneo: novas estruturas em madeira ou ferro / construção leve em madeira ou ferro (lajes colaborantes, “não colaboracionistas”) e paredes de “tabique moderno”, o gesso cartonado, marca “pladur” ou outra… pão-pão/queijo–queijo, porque estes dois sistemas – antigo e contemporâneo - têm afinal a mesma lógica.

3 – LOW-COST É SLOGAN. Precisamos de Arquitectura com tudo o que esta palavra supõe.

4 – CUSTOS CONTROLADOS (OU NÃO). Ficava sempre mal dizermos “Arquitectura a custos controlados”. Até parece que “éramos” um país de pobreza, em que teríamos (cruzes – credo) de controlar os tais custos… (choro e ranger de dentes, agora).

5 – ARQUITECTOS LOW-COST. Quantos gabinetes faliram no Porto desde 2008? Quantos colegas já emigraram?… Quantos colegas ficaram sem rendimento algum, por causa do “fantástico” sistema de pseudo-empreendedores que desde os anos 90 passou tudo e todos a falso recibo verde “arquitecto - para – arquitecto”, e portanto uma vez chegada a “crise que veio para todos”, veio de forma particularmente cruel para estes que sempre deram o litro no gabinete de outros – noitadas, entregas, maquetes, autocad, autocad, autocad, e agora sem salário, sem subsídio, sem nada? E quantos colegas ainda “trabalham” nos poucos gabinetes que restam no Porto, sem poderem passar recibo (custa um balúrdio/mês em pagamentos à Segurança Social e não dá direitos)? E quantos só conseguem trabalhar “à peça”(+/- 2000 euros de rendimento/ano)? Uma entrega de 7 em 7 meses?… E quantos já mudámos para trabalhinhos-de-migalha noutras áreas quaisquer, algumas de trabalhinhos humilhantes e com condições ainda piores. E até nos consideramos sortudos por causa disto? Emigrando para fora cá dentro? E de tal maneira, que até dói?

6 – UM ARQUITECTO IMPEDIDO DE ARQUITECTAR È UM EXILADO (“desempregado”). “Quando a pátria que temos não a temos / perdida por silêncio e por renúncia / Até a voz do mar se torna exílio / E a luz que nos rodeia é como grades” (Sophia de Mello Breyner, Livro Sexto)

7 – CONTROLO INEVITÁVEL, mas sem slogan. Agora sim, “inevitavelmente” tudo já está e vai ter de continuar ser LOW-COST ou custo controlado, também na Reabilitação e Arquitectura porque temos todos de pagar aos bancos para não “falirem”, coitados, que o mercado é “livre” mas “só” os Estados, as famílias, as empresas em geral e as pessoas é que podem falir. No futuro “radioso” que nos espera, quando voltarem do céu os Deuses “mercados”, BES, BPI, BCP, BANIF, BPP, BPN-travesti-BIC voltarão a nos “emprestar” o dinheiro que agora lhes entregámos à força e voltaremos (!) a poder ter a Arquitectura de autor high-cost paga a créditos que afinal não existirão na realidade (outra vez como foi até 2008). “O sistema há-de continuar igual a si próprio”, é isto o que esperamos quando apenas queremos (!) resolver a crise, não “resolvendo” o sistema em si. …Não o sistema construtivo, mas este antes “destrutivo” (you know what i mean).