De: Cristina Santos - "Rua da Boavista: o custo versus o proveito"

Submetido por taf em Sábado, 2006-09-16 19:17

Na Rua da Boavista não há vivência social, é uma rua de serviços e os residentes não usam nem o jardim da Praça da República nem sequer o da Rotunda, as casas são o refúgio donde todos evitam sair, não saem para tomar café à noite, porque tinham que pegar no carro e procurar um aberto...

É uma rua tida em boa conta, próxima de tudo, quase não há lojas vagas, no entanto acontece o seguinte, os jovens alugam os apartamentos quando vêm estudar, mas em menos de um ano mudam-se para a periferia ou para apartamentos mais baratos em outras zonas.

Julgo, daquilo que observo, que cada vez tem menos residentes fixos, mesmo aqueles que compram casa, rapidamente a põem à venda para adquirir fora por um preço bem mais agradável.

Há sempre gente para comprar e alugar, só que numa espécie de regime transitório, tipo um desenrasque. Um jovem compra um apartamento divide-o com 3 amigos e no fim dos estudos ou quando quer constituir família, vende e vai embora. Já quase só vivem nas rua os jovens empresários, porque as suas vidas agitadas exigem estar sempre dentro da cidade e disponíveis a qualquer hora. Também residem os agregados que ocupam fogos com renda condicionada e as novas famílias do Bairro da Bouça, que vamos ver no que vai dar.

Não nos falta garagens, nem parques, nem estacionamento, o problema é somar esse custo ao da habitação, depois as multas, por fim equacionar isto tudo e dizer: pago demais para aquilo que usufruo.

A conclusão a que chego, penso que é lógica: a Rua da Boavista tem preços que não justificam a qualidade de vida, pagar 150 mil euros por um apartamento e depois termos que nos deslocar à periferia para ter tudo o que precisamos, passear miúdos, ensinar a andar de bicicleta, fica tudo muito longe para quem quer educar uma família. Havia uma solução, se as casas tivessem logradouros ou jardins comuns; não tendo, não se justificam tais preços. Estou convicta que as jovens famílias estariam dispostas a pagar mais, mas por um sítio onde pudessem educar os seus filhos com todos os recursos, não são recursos de plástico - playstation, ginásio - não, recursos naturais e convivência saudável.

Enquanto não se apostar forte na habitação para a classe média–baixa, a Cidade do Porto será o local onde se estuda, onde estão os serviços públicos, mas onde não se planeia viver o resto da nossa vida.

Digo classe média-baixa sim, porque quem está na classe alta já tem pouco para onde subir, quem está por baixo fará todos os esforços para ascender, isso sim é a filosofia portuense, isso é que marca a nossa história - a capacidade de ascensão.

Já agora, e para concluir, muito aprecio a opinião positiva do Francisco e da Assunção, é natural que queiram dizer à juventude como viver e apreciar a cidade, mas para os jovens está a ser difícil suportar este défice entre o investimento e o retorno social, nem todos têm pais ricos, nem ganharam a lotaria, é natural que procurem casas que possam suportar no início da sua vida. E vocês geração (presumo) de 60 inflacionou a coisa, a ponto de não conseguirmos aqui viver e ao mesmo tempo ter que procurar fora respostas, para as necessidades que sentimos.
--
Cristina Santos