De: Pedro Figueiredo - "(A SRU) é apenas (um parêntesis) (…)"

Submetido por taf em Segunda, 2012-12-17 23:51

Cinema Batalha  Ruínas do Banco do Brasil

Fotografias:

  • Cinema Batalha a rachar, fechado após o fracasso de reabilitação de iniciativa privada. Foram gastos cerca de 1.000.000 de euros em obras de reabilitação pelo proprietário privado antes de ter fechado novamente. O programa “Cinema” tinha sido eliminado deste Cinema na reabilitação feita. Talvez daqui a base do fracasso, descolar o edifício do seu programa original.
  • Edifício na Rua Formosa, onde era o “Banco do Brasil” (anos 80)… Após a SRU ter esvaziado este quarteirão há meia dúzia de anos, é este ainda o aspecto desolador de todo o quarteirão, (assim mesmo) à vista de todos: um quarteirão abandonado à pressa devido a um qualquer cataclismo (“o cataclismo SRU”) neste far-west e à vista de todos, turistas e não-turistas. Parece que explodiu um engenho da Al-Qaeda e toda a gente achou normal haver um edifício de 7 pisos esventrado em plena cidade do Porto…

A memória (é mais) uma coisa que falta à direita no poder. Daí o seu falhanço na implementação da SRU. A sua falta de cultura e memória históricas redundam no primarismo e na barbárie das suas abordagens (neo-liberais) e imobiliárias no frágil tecido urbano do Porto. O estilo super-quarteirão a vender como um conjunto a preços super caros num país e cidade de gente cada vez mais pobre e sem crédito não é com certeza a abordagem mais eficaz e inteligente (sobretudo) depois de 2008. Rest in Peace S. R. U. Aqui não há a desculpa da Troika que acaba com tudo… Isto é apenas uma espuma dos dias: a SRU tinha de morrer devido às suas contradições internas. Custe o que custar, doa a quem doer, isto não é também uma questão de “Ruis” (Rios ou Moreiras), é antes uma questão simples de estratégia. Não compatível de todo com “stands de venda” (frente a S. Bento), inúmeros cartazes “(não) se vende” (quarteirão Corpo da guarda). A direita que aprenda com os seus erros, erros decorrentes da estupidez da sua própria ideologia.

Coisas que a SRU não quis saber, por falta de cultura e de memória histórica:
(Breve cronologia da Reabilitação do Centro Histórico do Porto)

  • Anos 30-50: Demolições entre a Ponte D. Luís e a Praça da Liberdade. Criou-se um melhor acesso automóvel à Ponte, “higienização” do centro medieval, “libertou-se” a Sé das casas em frente e laterais.
  • Em projecto e no PDM (anos 50-60, Robert Auzelle), viadutos, edifícios modernos, parques de estacionamento, demolição integral do Barredo/Mercadores.
  • Criou-se uma ferida, a “pedreira”.
  • A necessidade de preservar o centro histórico veio com o 25 de Abril.
  • Anos 70 e 90: projectos de Siza Vieira para “coser” as malhas, não realizados. Mas arrancou o CRUARB lado a lado com o SAAL (1974) para preservar o centro histórico (alojando “provisoriamente” as gentes nas torres do Aleixo).
  • CRUARB: Direito à participação popular e realojamento “in situ”. 3000 pessoas (750 famílias) foram transferidas.
  • A partir de 1976: “pastiches”, por ex. na Lada (elevador do Barredo) ou novos materiais à mistura.
  • 1982: O CRUARB passa a ser tutelado pela Câmara. Mesmo número de funcionários, mas agora sem pesquisa histórica e tipológica. É alargada a zona da intervenção.
  • 1996: "Porto, património da humanidade”… Recuperação do conceito “cada parcela, uma habitação”.
  • A partir de 2000: Extinção CRUARB e Fundação Zona Histórica / Criação SRU, conceito imobiliário e unidade-quarteirão privada integral. Preço caríssimo, tempos demorados de obra/expropriação, demolição integral dos interiores, fim da pesquisa histórica. Centro para ricos viverem, não para realojamento popular.