De: Pedro Figueiredo - "Que 1000 linhas do Tua floresçam!"

Submetido por taf em Domingo, 2012-02-05 20:50

Vale do Tua  Vale do Tua

Vale do Tua  Vale do Tua

1 - Morreram na semana passada mais 3 pessoas na construção da Barragem do Tua! 3 operários foram vítimas da derrocada de uma parte da encosta nascente (Carrazeda de Ansiães), a encosta da linha do Tua. Inicialmente, um arqueólogo também morreu na fase de estudo e em Agosto de 2011 aconteceu outro grave acidente, embora “apenas” provocara feridos.

2 - Quando caem pedras sobre a linha, “a linha é perigosa, causas naturais são decretadas, feche-se então a perigosa linha”, no momento seguinte quando cai em derrocada parte da encosta sobre as obras da barragem, “a barragem pode continuar, causas naturais são decretadas, não há perigo algum”… Não, por Deus não se trataria de qualquer incúria ou incompetência ou desleixo por parte da EDP, Mota-Engil ou Somague, apesar de a encosta estar constantemente a ser dinamitada, o que a fragiliza (aos olhos de qualquer ignorante…). O xisto é mole, o granito também não, a dinamite explode constantemente, “causas naturais são decretadas”... A aldeia da minha Avó – Fiolhal, a 1 km das obras da barragem - tem sido testemunha e mártir face ao ruído das explosões constantes contra a Mãe-Natureza! (Blog Derrotar Montanhas ou MRPP, à esquerda ou à direita a barragem do Tua está mal e deve acabar.)

3 - Em Agosto do ano passado, (uma vez mais) de férias no Fiolhal (cerca de 50 almas), às portas das obras… De dia explosões e retro-escavadoras, e à noite explosões e retro-escavadoras a ecoar (e sabe Deus como aquele vale do Tua faz ecoar o mínimo ruído, quanto mais explosões e retro-escavadoras)… Não cumprindo sequer a “lei do silêncio” que impõe a partir da meia-noite o silêncio de tudo e todos (obras incluídas) em zonas habitadas (aquela zona É habitada!) Ninguém na aldeia estava a conseguir dormir, obviamente. E eles, os habitantes tinham (obviamente) de ir trabalhar também às manhãs de Agosto faça sol ou muito sol… Escrevi um abaixo-assinado (em anexo) e dei a assinar à aldeia do Fiolhal… ”Façamos então a Revolução”: toda a gente do Fiolhal à medida que eu ia de porta em porta a tentar pregar a causa ía gemendo que “não, que não ia adiantar nada, eles não iam fazer nada...” e todos eles afinal assinaram rapidamente, pois era uma causa pessoal (o sono) que estava em causa… (nota: às vezes a passividade cívica dos Portugueses resume-se afinal a uma “tradição que há que manter” ou a uma “doença psicológica”, a realidade impõe que as pessoas se mexam…). Entregámos as assinaturas à GNR de Alijó… E, milagre, acabaram durante as noites todo o barulho indevido que estava a ser feito. Mas de dia claro que a obra não pára… Vejam este vídeo (vídeo também replicado no JN, antes da derrocada mortal)…

4 - “Em verdade vos digo”: pelos operários mortos, pelo bom senso energético que falta, pela dívida acumulada que pagaremos nas facturas da luz à ditadura chinesa/EDP, pelo magnífico Vale do Tua, pela ferrovia que pode vir ainda a ser o motor económico daquela zona e pela classificação patrimonial do Douro que era escandaloso se a perdêramos por causa desta "brincadeira"… por tudo isto e muito mais: “Que mil Linhas do Tua floresçam!” “Ousar Lutar / Ousar Vencer” (Amén)