De: Pedro Figueiredo - "Entaipados «ao menos» não servem a ninguém"

Submetido por taf em Quinta, 2012-02-02 15:02

Edifício no Jardim do Marquês de Pombal

O mote desta cidade às vezes é “antes fechado que reabilitado”. Parece uma reacção mesquinha e primária da sociedade: “se eu não uso nem quero/posso recuperar, em vez de entregar a quem use/possa recuperar, eu fecho”… Durante anos este bloco foi uma pequena biblioteca; depois durante anos esteve fechado a degradar-se; agora, a acção do Município é, heroicamente, emparedá-lo. “Ao menos não serve agora a ninguém”. Assim, ninguém poderá nem sequer vandalizar, nem sequer okupar, nem sequer ainda… recuperar, reabilitar, alugar ou ceder a quem queira… Este belo e pequeno edifício no Jardim do Marquês parece uma metáfora da volúpia em fechar edifícios, manifestando a impotência assumida em não querer/saber recuperá-los… Que é a óbvia alternativa.

A “autoridade pública”, em vez de entaipar este edifício, devia ter-se mexido para… (apenas a título de exemplo)

  • “Ter ido falar com o Colectivo CasaViva, ali em frente, que depois de ter demonstrado saber fazer uma okupação exemplar na “EscolaViva”, chamaria a este espaço “um figo”, que daria, por exemplo, para a CiclOficina que é a oficina de reparação de bicicletas que funciona actualmente na CasaViva antes das “Bicicletadas” mensais”. (Era a hipótese Anarquista ou Alternativa.)
  • “Teria ido falar com o Instituto do Terço ali ao lado para que este colocasse um posto de apoio e informação aos muitos idosos que usam o jardim todos os dias”. (Era a hipótese “Misericórdia”, tão em voga e igualmente válida.)
  • “Teria ido falar à Segurança Social ali na Rua das Doze Casas e colocado a funcionar um centro de apoio aos muitos desempregados que por ali deambulam nesta crise que sabemos”. (Era a hipótese Estado Social, bem necessário ”sabe-se agora”.)
  • “Teria ido falar ao Café Pombal do outro lado da rua, e propor ao dono do café a instalação de uma esplanada no jardim, assessorada por este pequeno bloco”. (Era a hipótese Capitalista, mas que mexe com o uso público dos espaços.)

Podia… podia… podia…, mas não foi. Mais vale entaipar que assim ao menos não serve a ninguém. (Amigos: quantos votos teve o PSD nas autárquicas no Porto? Porquê, para quê e para quem? Pergunto eu…)