De: TAF - "Como funciona a concelhia de um partido político"

Submetido por taf em Sábado, 2011-12-31 23:50

Já aqui ocasionalmente tenho falado do que vou observando, e daquilo em que vou participando, no partido em que milito, o PSD. Há anos que insisto na importância de os cidadãos serem mais activos no uso das ferramentas que a Democracia nos fornece, seja lá qual for o partido que escolham. Por isso, para terminar o ano e porque me parece educativo, aqui ficam alguns comentários adicionais a propósito das eleições que vão ocorrer no final de Janeiro para os órgãos concelhios do PSD/Porto. Estou certo de que "telenovelas" equivalentes ocorrerão nos outros partidos...

Nas eleições passadas existiram duas listas para a Comissão Política Concelhia. Descrevendo de forma (demasiado) simplista, uma era liderado por Paulo Rios e apoiada pela "facção Rui Rio", outra era uma lista alternativa que faz oposição interna (leal) há vários anos, encabeçada por Luís Artur Pereira. Na altura não conhecia Paulo Rios e fiquei mal impressionado com o facto de o ponto aparentemente principal salientado pela candidatura ser precisamente o facto de ser apoiada por Rui Rio. De objectivos, programa, etc., falava-se pouco. Além disso era a "lista da continuidade". Sabendo que anteriormente a liderança da concelhia era de uma agressividade gratuita e sofria de "partidarite" aguda, resolvi optar por votar na lista concorrente. A mudança seria só por si uma vantagem, mas a minha escolha não venceu.

Entretanto fiquei contente por ter perdido, porque Paulo Rios se revelou um bom líder: dialogante, sem agressividade, aberto à participação de todos, aproveitando boas ideias. Um estilo totalmente diferente do anterior. Alargou muito a participação dos militantes, chamou mais gente ao partido, e terminou com um processo exemplar de escolha interna da proposta para reorganização das freguesias.

As novas eleições vêm aí. Mais uma vez de forma muito simplista, existem três tipos de militantes: os da "facção Rui Rio", os da nova "facção Menezes", e os que (como eu) não pertencem a facção nenhuma (não vão em "carneiradas") e querem é debater ideias e escolher projectos. A "facção Rui Rio", que quer evitar que Menezes venha para a Câmara do Porto, pensou em empurrar Paulo Rangel para a liderança da concelhia, como primeiro passo para uma candidatura à Câmara. Rangel, ao contrário do costume, ainda foi ao plenário de militantes. Queria certamente "sentir o ambiente". Mas não encontrou nenhuma vaga de fundo. Além disso, digo eu, não teria o mínimo perfil para este cargo, apesar de ter muito valor noutros aspectos.

Do outro lado aparece Ricardo Almeida, até agora o único candidato. Tem a seu favor a clareza de se ter apresentado à luta. Tem contra si tudo o resto: o de ter ficado tristemente conhecido como "deputado voador", o de não se lhe conhecer qualquer proposta concreta ou ideia política relevante ao longo de tantos anos na política (nunca teve vida profissional fora da política - agora está na Gaianima), o de indiciar uma escolha prematura (embora ele a negue) de Menezes como candidato à Câmara, o de estar envolvido num estranho caso de inscrição muito recente (e entretanto suspensa para averiguações) de 300 novos militantes.

Paulo Rios tem algumas dificuldades de disponibilidade para se recandidatar (é deputado, tem a família no Porto e vida dividida entre Porto e Lisboa), mas ainda terá tentado uma candidatura de equilíbrio, integradora. Sem sucesso. As facções Rio e Menezes estão em plena batalha, e muitos dos que supostamente estavam acima desta pequena política afinal vão-se posicionando conforme lhes parece mais vantajoso. Ou "defendem-se", afastando-se da procura de soluções. Resultado: aparentemente existirá uma única candidatura que me parece totalmente insatisfatória. De tal modo que, não fosse o facto de eu desconhecer quase completamente as estruturas do partido e de os militantes não me conhecerem (excepto os poucos que participam nos plenários e debates internos), até eu me candidataria a este cargo para o qual não tenho qualquer vocação... Mas pelo menos ficava com a consciência tranquila de ter feito o que estava ao meu alcance para encontrar uma alternativa. Atendendo a que dificilmente teria mais do que o meu próprio voto (e eventualmente o da minha mãe que também é militante :-) ), aqui fica o desafio a que apareçam mesmo outros candidatos. Eu não quero ter de votar em branco.

BOM ANO!

PS: Espero que compreendam que isto é um incentivo a que apareçam mais militantes para que haja votos internos suficientes de gente de mérito que mude este triste cenário. No PSD e em todos os outros partidos. A Democracia nunca será saudável sem partidos saudáveis.