De: Pedro Figueiredo - "Da crise enquanto oportunidade (para roubar)"

Submetido por taf em Domingo, 2011-07-24 23:57

Para quem não sabe, é mesmo possível uma empresa pública de transportes ou outra “dar lucro” actuando dentro do serviço público e no âmbito “Estado”. Vinha numa revista Sábado de há 3 meses (revista perdida, à espera de vez no dentista…), dados de 2010:

  • Metro de S. Paulo – Lucro 31,5 milhões / Metro de Lisboa - Défice 37,9 milhões
  • Comboios DSB Dinamarca – Lucro 1300 milhões / CP Comboios de Portugal - Défice 217,3 milhões
  • Tv BBC Inglaterra – Lucro 566 milhões / Tv RTP Portugal – Défice 107,7 milhões

- Olhe, Pedro (Passos Coelho): Está a ver? Não há necessidade de Privatizar! Basta gerir bem as empresas…, ok? Não é porque a troika disse para privatizar que se é obrigado a fazê-lo… (Para que serve a inteligência?)

A crise tem sido, ao invés, uma oportunidade para os governos roubarem mais aos cidadãos e descapitalizar ainda mais os Estados. Este governo, entre estas duas hipóteses à escolha:

  • Hipótese 1 – Criar um plano público para, no âmbito do Estado, melhorar radicalmente a qualidade da gestão das empresas de transporte público, viabilizando assim a sua continuidade na posse “comum”… ou
  • Hipótese 2 – Não querer de todo manter estas empresas na posse do Estado, optando assim por enquanto a continuar a geri-las (mal e porcamente), apenas em compasso de espera até à sua “entrega” a privados…

O actual governo optou pela segunda hipótese, a mais fácil. A hipótese que não exige o trabalho de “pôr as empresas públicas a serem bem geridas”. Ou seja: está a preparar a caminha para os privados se deitarem, e para já, faz um aumento COLOSSAL das tarifas dos transportes (15% a 25% em Porto e Lisboa). Assim, quando os senhores que irão finalmente gerir “bem” aquilo que o Estado não quer ter o trabalho de bem gerir, já a gente estará habituada a tarifas mais altas… e o bolo será mais apetecível para os senhores compradores que terão mais valor nas tarifas-base. Quem é o tolo que quer comprar “empresas deficitárias” em qualquer país? Ninguém. Não por exemplo, Mira Amaral que, não sendo tolo nenhum, também veio recentemente pedir ao governo que injectasse mais capital no BPN para que fosse “interessante” comprá-lo… Ah, sempre tão amigos de arriscar no mercado livre, os nossos Liberais…

Por fim, aproveitemos a Crise como uma oportunidade, então:

  • Aproveitar a alta da gasolina para melhorar os transportes ferroviários, expandindo linhas por exemplo (Vai-se privatizar. É melhor abater. Não há visão ecológica).
  • Aproveitar o estacionamento inteligentemente super-castigado por António Costa em Lisboa para baixar as tarifas do transporte público. Isto seria uma “política”… (mas não, aumenta-se também as tarifas públicas de forma colossal para se privatizar. Não há visão ecológica nem global para o transporte público vs. automóvel privado. Em caso de dúvida, aumenta-se ambos, uma no cravo outra na ferradura). Mais uma razão para haver as regiões metropolitanas de Lisboa e Porto com autoridade sobre os transportes. À região o que é da região (urbana)! Autoridade sobre os STCP e CARRIS para que não venha um qualquer governo central desdizer em sede central o que a Região se autopropôs como planeamento democrático e público a nível regional…
  • Aproveitar as portagens SCUT pagas para fazer reverter o “produto” dessas portagens para um fundo de expansão dos transportes públicos e transportes mais limpos, ferrovia e bicicleta. Pagar portagens nas SCUT, sim… mas fazendo os carros pagar a ecologia. Os automobilistas com as portagens SCUT pagariam os transportes públicos alternativos (mas não, estamos “amarrados” a pagar rendas aos privados destas PPPs). As linhas que Daniel Rodrigues se refere em “Outra vez” são um bom contributo. É preciso gente para pensar o caminho-de-ferro. Não para o abater. A Linha do Tua tem de ser vista num campeonato à parte, Daniel Rodrigues. É que a Linha do Tua é do domínio do “património ambiental” que a envolve e justifica… por isso não cabe na categoria das “linhas estritamente funcionais ou úteis” que o Daniel enumerou e muito bem.

Caro TAF, e bloggers que ainda têm no anjo Passos como o salvador da pátria do demoníaco Zé-Sócrates? Acabou-se o espírito crítico, agora?… Silêncio colossal?