De: TAF - "Fontinha"

Submetido por taf em Quarta, 2011-05-11 17:49

Conheço bem a Fontinha, pois a Ana tem o atelier a poucos metros da escola, na Fábrica Social. Naquela zona há aliás um outro interessante projecto, a Quinta Musas da Fontinha. O potencial de todas estas iniciativas complementares é enorme.

Não tenho uma visão conspirativa da sociedade, acho que a maioria dos políticos é bem-intencionada. Acontece com frequência que eles pura e simplesmente não percebem como se gere uma cidade nem como se mobilizam as vontades. Há aqui contudo algo mais grave. É que, por vergonha de reconhecer as próprias falhas, fazem uma fuga em frente: fecham a escola desmobilizando as pessoas (isto em economia chama-se "destruir valor") e recorrem ao bluff com um suposto projecto inventado à última hora. Imitam aqui aliás, tal e qual, os defeitos de Sócrates no Governo. Se tinham uma hipotética solução para a escola, por que não a aplicaram antes?

Os okupas não deviam ter resistido, mesmo pacificamente, à intervenção da polícia. Mais: deviam ter activamente colaborado com as autoridades na desocupação do local, pois tornar-se-ia ainda mais evidente o carácter surrealista deste despejo - excelente publicidade a um projecto com mérito. ;-) As acções não podem estar fora da lei - se a lei está mal, mude-se a lei. Se os tribunais não funcionam (por exemplo para podermos processar as autarquias por gestão danosa de bens públicos), corrijam-se as deficiências. Não é por acaso que há longos anos defendo que a Justiça é o campo de prioridade máxima para quem quer desenvolver o país.

Aqueles que não votam nas autárquicas, que acham que os partidos são antros de vício que se devem evitar, que desistem de fazer valer os seus direitos na política local onde podiam fazer a diferença, vêem agora a consequência da sua omissão: têm de se submeter às decisões daqueles que nitidamente não estão à altura dos cargos que democraticamente conquistaram. Que esta escola lhes sirva de lição.

Continuo, como militante do PSD, a tentar internamente mudar esta situação, já que o presidente da Junta e o presidente da Câmara são do meu partido. Este exemplo reforça a minha opinião de que as questões locais devem ser tratadas independentemente das nacionais. Por um lado concordo com o programa proposto pelo PSD nacional, apoio o trabalho de Passos Coelho e vou votar convictamente PSD em 5 de Junho, mas por outro lamento que os executivos autárquicos do PSD intervenientes neste caso (Câmara com Rui Rio e Junta com Wilson Faria) tenham provado tanta incompetência e desmereçam a confiança que os eleitores lhes deram (não foi o meu caso, felizmente).

Mas diga-se também: estavam os okupas à espera de quê? Sendo pública a irreprimível tendência autárquica portuense para a imbecilidade no que respeita à interacção com a sociedade civil, não podem invocar desconhecimento "do que a casa gasta". Faz-me pena e causa-me até indignação que desperdicem assim a sua óbvia e louvável boa-vontade. O país precisa desesperadamente que a sociedade civil saiba ultrapassar as barreiras que a Administração Pública lhe coloca. Os próximos passos que agora se preparam devem ter isso em conta. Não basta ter boa intenção, é urgente ser eficaz.