De: Pedro Figueiredo - "Rui Rio tem toda a razão"

Submetido por taf em Quarta, 2011-03-30 17:18

1 - “Rui Rio ter toda a razão”… parece uma contradição nos termos, mas não é. Rui Rio tem mesmo toda a razão quando pede um abaixamento dos vencimentos dos Gestores da Metro do Porto. Segundo o JN de 26 de Março de 2011: O administrador do Metro Ricardo Fonseca ganha por ano 219.194,00 euros. A administradora do Metro Maria Rato ganha por ano 139.742,00 euros. O administrador do Metro Jorge Delgado ganha por ano 204.451,00 euros. A administradora do Metro Fernanda Menezes ganha por ano 45.499,00 euros. Mas há mais administradores do Metro do Porto, pelos vistos, empresa em “apuros financeiros”, ao contrário dos que a gerem.

2 – Rui Rio tem toda a razão. Os gestores da Metro ganham demasiado acima do moralmente adequado, por muito bons gestores que sejam. 1/5 de 200.000 euros num ano já é perfeitamente adequado para um gestor de topo, seja de que empresa for: 40.000 euros a dividir por 12 meses equivale a 3300 euros, 660 contos por cada mês. Bem bom para alguém competente. Ou incompetente.

3 – O Ministério das Finanças em 2010 decidiu não permitir a acumulação de funções dos autarcas com assento na Metro do Porto. É evidentemente uma justíssima medida, que deve ser praticada em qualquer lado. Ninguém deve acumular rendimentos “por inteiro” quando só trabalha “a part-time”… Rui Rio o-tal-que-tem-toda-a-razão veio à altura retaliar contra esta medida “injusta” que lhe permitia vir a ganhar menos, “apenas” acumular o que ganha na Câmara com o que ganha na Câmara. Injusto, portanto. Rui Rio tem toda a razão.

4 – Este é um país “estranho” em que existem dois mercados de trabalho, em vez de um único. Há um mercado de trabalho, que todos conhecemos, onde se concorre “a ver quem ganha menos”. Outro, a ver “quem ganha mais”. No mercado “a ver quem ganha menos”, todos aceitamos - se queremos trabalhar - ganhar menos porque há crise ou ficar a recibo verde porque temos medo de ficar sem trabalho se “pedirmos” um contrato. “Temos de aceitar”. É a lei da Oferta e da Procura. Há muitos a concorrer para poucos lugares, logo as condições são miseráveis… No mercado “a ver quem ganha mais”, não há concursos. Há o círculo restrito de gente que “passa” de um sítio para os outros sem se sujeitar a “leis de oferta e procura”. Um país. Dois mercados, à Chinesa. Se pusessem um anúncio no JN e pedir administrador para a Metro do Porto, full-time, 200.000 euros por ano, eu concorria. Tenho capacidade, sou empreendedor, tenho dinamismo. E centenas de pessoas igualmente capacitadas também concorriam. Rui Rio também concorria.

Por mim, concorri recentemente à Metro do Porto, para fintar a “minha” crise, ao campeonato “dos que ganham pouco”. Respondi a um anúncio para o pessoal que auxilia os utentes a usar as máquinas e oferece informações em geral. O salário não era alto – 510 euros + subsídio de alimentação, contrato a prazo. Não é isto, no entanto, “gravíssimo”. O que é gravíssimo foi terem-me dito na entrevista que não há escalas de serviço / turnos. Chama-se “disponibilidade total” ou então “ desorganização total desta empresa”. Teria de receber no dia anterior, por telefone, qual seria o turno e a estação na qual teria de estar no dia seguinte. Na véspera dizem se hoje vou para a Póvoa, Maia, Trindade, Gaia ou outra, antes das 6 da manhã, hora da 1ª viagem. Ou seja, impossibilitado de usar a 1ª viagem de Metro, aproveitando a boleia de serviço do melhor transporte não poluente da área metropolitana par o qual trabalharia… Que mundo este em que para trabalhar no Metro é portanto preciso ter carro (por 510 euros/mês). “Que parvo que eu sou.”

5 – A Metro do Porto , segundo o Jornal Público de 25 de Março,
“(…) precisa de garantir que no dia 18 de Abril terá cobertura num cheque de 100 milhões de euros a passar ao BCP.(…) E também não conseguiu mobilizar a banca para conceder outros empréstimos que lhe permitam fazer face a outras necessidades de tesouraria – para pagar a fornecedores e ao próprio subconcessionário responsável pela operação(…)”
“Mas, para o mês de Março, a Metro do Porto tem apenas verbas disponíveis para pagar salários (390 mil euros) e 29 milhões de euros para liquidar uma verba relativa a um investimento co-financiado pelo QREN”

6 - Tenho uma proposta para a Metro do Porto arranjar os 390.000 Euros para os salários do Mês de Março: Rui Rio concede em exercer de graça as funções de administrador da Metro do Porto durante dois anos (200.000 euros x 2 anos), entregando filantropicamente a verba para o pagamento dos salários deste mês. Seria a primeira vez que a humildade de alguém sempre pronto a atribuir medidas de austeridade (para os outros) aplicaria a si a acumulação de dois cargos pelo preço de um. Afinal estamos em crise, e às vezes é preciso ter “vários empregos”. Bem empregues.

7 – A Metro do Porto teve, nos últimos tempos de crise petrolífera, um aumento de passageiros de cerca de 15%. 15% a mais só em “receita de bilheteira”.