De: António Alves - "O estranho caso dos investidores desaparecidos"

Submetido por taf em Quarta, 2011-02-23 19:23

Embora tendo alguns conhecimentos de sociologia e economia não me atrevo a apresentar aqui qualquer estudo conclusivo sobre a tão discutida ausência de investidores para a reabilitação urbana. Vou limitar-se a fazer uma pequena análise que a minha percepção da realidade permite.

Na minha modesta opinião julgo que o repovoamento da Baixa não será feito recorrendo ao mercado da compra e venda de habitação própria com recurso ao crédito bancário. Este mercado, actualmente em retracção acentuada nos seus segmentos médio e baixo, não se ajusta ao objectivo em causa. Os filhos dos que abandonaram a cidade para os concelhos limítrofes, aqueles que poderemos recuperar para repovoar o Porto, já perceberam o logro em que os seus pais cairam e não pretendem ficar cativos de um crédito bancário que os agrilhoará a uma casa e a um local praticamente por quase toda a sua vida profissional activa. No mundo de hoje salvaguardar a mobilidade é fundamental. As estratégias de gentrificação também já demonstraram que terão um sucesso muito limitado e localizado ou que estarão mesmo condenadas ao fracasso. A solução está no mercado de arrendamento a preços compatíveis para quem não aufere salários muito elevados e está em início de carreira.

Descoberto então o mercado adequado porque razão não aparecem investidores? As causas não devem ser procuradas nas características específicas da urbe portuense nem em análises psico-sociais dos investidores. As causas são de âmbito mais macro e só serão resolvidas no âmbito político nacional. As causas são a falta de flexibilidade da actual legislação que rege o mercado de arrendamento, o regime fiscal desfavorável e o colapso do sistema de justiça. Sem um mercado verdadeiramente liberalizado, com regras flexíveis e claras, um regime fiscal atractivo, e, principalmente, sem um sistema de justiça rápido e eficiente que resolva potenciais conflitos entre senhorios e inquilinos, de um modo justo e em tempo economicamente útil, compreendo que não apareçam investidores.

Poderão agora dizer que assim sendo não acredito na recuperação de população para a Baixa do Porto a médio prazo. É verdade, infelizmente não acredito. Espero estar enganado.