De: Cristina Santos - "O que é Bilbao tem, que nós não temos?"

Submetido por taf em Quarta, 2010-09-01 22:36

Um bom plano de marketing estratégico, um branding diferenciador, e um produto que de facto possuiu qualidade distinta. Podemos competir com Bilbao? Bilbao está a concluir o seu processo de reconversão com o bombástico masterplan Zorrozaurre. Embora os dois municípios tenham semelhanças óbvias, a questão é que nós não temos um plano de marketing que alicerce os investimentos, copiamos é certo, mas falta o plano global que faça convergir. Para simplificar, cada passo em Bilbao é como percorrer o imagem-mix de um iogurte, há um apelo, há uma oferta, há uma dimensão, há um valor e cada palavrinha converge no sentido desse produto, Bilbao sabe o que quer ser. O marketing utilizado preocupa-se em atrair a própria cidade, cada colaborador está a vender o seu trabalho, mas também está a ser trabalhado por esse processo estratégico, como aliás mandam as boas regras do marketing.

Teve arquitectos de renome a projectar estações do Metro, ora nós também os tivemos, nas praças principais, mas não os soubemos envolver. Criaram o Guggenheim Museum, nós temos a Casa da Música, não são comparáveis? Podiam ser. Mas envolvemos a Casa da Música com edifícios, restringimos uma grande obra, mais uma vez entregámos o projecto sem visão do produto final e é caro ser utilizador da Casa da Música, portanto não pode inspirar a população. O Euro 2004, um investimento dessa ordem, é admissível a simplicidade corrida dos investimentos nas Antas? Face ao valor da zona, há ali algum elemento diferenciador e contemporâneo? O Dolce Vita? Miguel Bombarda e Cedofeita, uma rua de arte não tem esculturas, não tem elementos, é um bocadinho estúpido, não? Como é que se advinha o que ali existe?

O nosso centro histórico é óbvio que é uma maravilha, mas os profissionais escolhidos estão preocupados em servir de intermediários numa venda de dois ou três prédios que não lhe pertencem, anos e anos. E afinal, nesses negócios privados, as obras respeitam o património, os planos previstos? E no plano público, verbas do Governo Central têm cativado, têm aproveitado ao menos os programas?

O que temos no Porto que nos diferencie? Um centro histórico único, a Casa da Música, as pessoas, sem pressões de grupos de terroristas, as universidades e a praia.

No centro histórico, creio que seria de pintar fachadas dos prédios devolutos, ainda que sejam privadas, limpar ruínas, ajudar o comércio, fazer plano de ordenamento a que realmente se obedeça, deixar agir o mercado. Na Casa da Música, iniciar uma série de expropriações que alarguem o espaço para a 5 de Outubro onde está tudo ao abandono, por exemplo. Ligar a Casa da Música ao Centro Histórico, favorecendo essas ruas, pintando pelo menos, e ajudando o comércio. Nas Antas beneficiar o viaduto junto à estação do Dragão com esculturas, qualquer coisa que minimize o impacto, e expropriações para espaços verdes. Promover a arte e a cultura no espaço público. Incentivar os universitários e as novas tecnologias, desafiar as universidades solicitando projectos para esta reconversão. Deixar que a juventude circule em paz, e recrie os ambientes.

Seremos capazes disto? Isto é apenas uma ideia, há gente mais habilitada para pensar o marketing da cidade. Na minha opinião, não somos capazes de grande coisa. Teríamos no mínimo de dispor da regionalização, e mesmo com ela...

Cristina Santos