De: TAF - "Respeitar o património é isto?"

Submetido por taf em Sábado, 2010-07-03 22:59

Por causa deste projecto tenho estado a ver com algum cuidado a situação do Morro da Sé, e a analisar imagens e projectos já antigos. Deixem-me comentar aqui dois edifícios contemporâneos, ou melhor, um é este edifício cor-de-rosa que aparece nas duas primeiras fotografias (ver post completo), e o outro já com alguns anos, ao centro da última. São dois exemplos entre muitos. Não sei quem foram os arquitectos nem quais as condicionantes que tiveram; não os estou a julgar, mas apenas a analisar o resultado destas obras concretas inseridas no local. Porque não percebo esta arquitectura. A minha formação académica é noutra área (engenharia electrotécnica), mas qualquer comum mortal tem legitimidade para fazer este tipo de apreciação porque a cidade é feita para os comuns mortais.


No Morro da Sé


Em minha opinião há duas alternativas para obras em centros históricos, ambas legítimas, defensáveis, coerentes:

  • ou se respeita escrupulosamente o estilo antigo de construção, usado exactamente os mesmos materiais e técnicas;
  • ou se aceita a liberdade de concretizar arquitectura contemporânea, exigindo-se uma avaliação especialmente cuidada da sua qualidade por parte das entidades competentes para o licenciamento.

Qualquer destas opções me agrada:

  • a primeira porque mantém de modo mais vincado a memória do lugar, sendo viável uma utilização "moderna" desde que se evitem as excessivas divisões internas habituais nos edifícios antigos (respeitando contudo a sua estrutura);
  • a segunda porque permite uma adaptação mais eficaz aos usos actuais dos espaços e cria um contraste de estilos que pode ser muito estimulante (já sei que a avaliação da qualidade é sempre subjectiva, mas também me parece indispensável).

O que eu não percebo é quando se fica a meio das duas, porque o resultado é de muito fraca qualidade. Nem é velho nem é novo, nem é tradicional nem é criativo, nem é carne nem é peixe. É um "compromisso" (pelo menos do meu ponto de vista) muito desrespeitador do património. Aqui sim há um contraste flagrante entre a construção nova e a construção antiga, mas um contraste muito desagradável. Usa-se o betão a querer imitar a linguagem original, quando ele não existia, e dá no que está à vista. Colocam-se umas finas placas de granito (polido!) a fingir que são os aros de pedra das janelas típicos do Porto. E por aí fora... Comparem-se estes edifícios com os "feitos por engenheiros" tão vulgares no interior do país: descobrem-se grandes diferenças?


No Morro da Sé

No Morro da Sé