De: F. Rocha Antunes - "East Side story?"

Submetido por taf em Quinta, 2010-01-28 13:44

Meus caros,

A ideia do Mapa Sensorial do Alexandre Burmester é muito boa porque nos ajuda a olhar a cidade sem ser numa perspectiva tecnocrática. Todos temos um mapa desses cheio de zonas de empatia vermelhas (as minhas são azuis e não é um aparte futebolístico), neutros (para mim definitivamente cinzentos) e os de ruptura ou agrestes (o amarelo pode ficar). Para além da divisão da cidade nessas cores é muito importante percebermos que essa percepção da cidade muda com o tempo. Ainda não há muitos anos todos os que teimávamos em definir a Baixa como prioritária éramos olhados como uns tipos esquisitos e agora o Mapa Sensorial de muita gente foi positivamente alterado em resultado do que a pequena iniciativa privada foi capaz de fazer nos últimos quatro anos.

A zona a Este da Rua de Santa Catarina sofre de uma imagem negativa imerecida e inexplicável para quem só vive há 20 anos no Porto, como é o meu caso. Não há qualquer justificação evidente para que essa zona da cidade, que tem Metro, excelentes transportes públicos e um edificado que muitas vezes é de grande qualidade patrimonial estar completamente fora do radar de todos os agentes que dinamizam a cidade. É uma magnífica zona residencial, com uma qualidade urbana muito superior a muitas zonas habitacionais de concelhos vizinhos. A única explicação que encontro é ter ficado para trás depois de tantas e tantas zonas “mais na moda” que foram sendo criadas nas últimas décadas.

Sempre que me perguntam por uma habitação acessível no centro da cidade eu falo sempre na zona Oriental com aquela que verdadeiramente tem as oportunidades de investimento individual para reabilitação a preços certos mas toda a gente olha para mim com um ar estranho, como se eu não soubesse qualquer coisa que depois ninguém sabe concretizar. Acho que esse olhar é parecido com o que me faziam há 10 anos quando eu falava da Baixa.

Caro David, eu concordo sempre com a ideia de se criar concorrência mas acho que neste caso não é preciso: a Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística, que define os limites territoriais da Porto Vivo, cobre parte substancial da zona que referes. Já temos instrumentos que cheguem, precisamos é de melhorar a eficácia dos mesmos. Se juntarmos à SRU as ideias que foram apresentadas para a Frente Ribeirinha e uma outra, menos conhecida mas não menos importante, que foi o projecto de criar um plano intermunicipal para a Estrada da Circunvalação, temos muito que fazer sem ter de planear (que costuma ser diferir) mais.

Francisco Rocha Antunes
Gestor de Promoção Imobiliária