De: Alexandre Burmester - "Mapa Sensorial do Porto"

Submetido por taf em Quarta, 2010-01-27 23:44

Mapa Sensorial do Porto


A cidade do Porto encontra-se num estado para o qual os instrumentos de Planeamento existentes não chegam para uma intervenção eficaz. Outros instrumentos devem ser usados. Contudo, e porque se assiste sempre a um desnorte na actuação, principalmente porque as acções desenvolvidas pautam por ser casuais, não terem continuidade, e principalmente por serem feitas nos locais de maior visibilidade e não de maior pertinência, interessará pois ter um instrumento de levantamento da cidade onde se possam representar fisicamente os problemas urbanos. Nessa perspectiva proponho a construção de um Mapa Sensorial para o Porto (PDF).

Perceber é conhecer através dos sentidos. Perceber o espaço em que vivemos faz-nos compreender a melhor forma de nele intervir. Qualquer espaço contém uma percepção que é única para cada um de nós. Uma cidade, como espaço público, poderá ter uma percepção colectiva. O Mapa Sensorial que apresento corresponde à minha visão da cidade, mas sustenta-se numa leitura de comportamento colectivo espacial, que se traduz pela importância e valorização do comportamento da população, e de onde resulta a forma como a usamos e vivemos.

O Mapa Sensorial do Porto está feito a uma escala grande, o que significa que apenas representa áreas de grande dimensão. Este mapa poderá ser focado a maiores e menores escalas, neste caso ao bairro, à rua, à casa até ao espaço pessoal de cada um. O Mapa pretende de uma forma simples representar a cidade em três diferentes estados de percepção e de sentimento:

  • Espaços de empatia, onde a cidade cumpre nas suas formas e funções os seus usos, e de onde resulta um sentimento de aceitação / paixão (Vermelho);
  • Espaços neutros, onde as funções e os usos, embora não estejam bem adaptados, cumprem minimamente a sua função, e que transmitem um sentimento de resignação / indiferença (Laranja);
  • Espaços de ruptura, que se traduzem em áreas abandonadas, desadequadas e caracterizadas pelos vazios urbanos. Transmitem um sentimento de rejeição / revolta (Amarelo)

A compreensão desta leitura sensorial urbana permite perceber de acordo com a classificação quais as áreas deprimidas da cidade, quais os factores motivadores, e principalmente orientar o local para intervir na sua inversão. Naturalmente que a forma de agir poderá conter variadas formas de intervenção. A operação urbana a desenvolver independe do levantamento efectuado, este apenas serve para a sua detecção. As intervenções devem procurar as pontas soltas das malhas, provocando as pontes necessárias à construção de um espaço contínuo. O interesse será claramente o de eliminar as rupturas urbanas, aproximar os espaços neutrais em espaços sensorialmente agradáveis, com o objectivo de criar uma melhor qualidade urbana e a consequente empatia dos cidadãos com o seu espaço. Entenda-se que as rupturas sensoriais não significam continuidade espacial, porque rupturas podem e devem existir nos usos e nas formas, mas não devem é existir na empatia.

O Mapa aqui apresentado não o pretendo rigoroso, tal como referi antes é uma leitura pessoal da cidade. Cada pessoa tem a sua percepção da cidade, e só no seu conjunto tenderá ao rigor. Para que assim fosse haveria que acrescentar a leitura de outros cidadãos, e tanto mais rigoroso seria quanto maior fosse essa participação, e maior número de classificações tivesse.

Alexandre Burmester