De: António Alves - "O bom senso começa a vir ao de cima II"

Submetido por taf em Terça, 2009-12-08 23:43

No passado dia 11-08-09, escrevi aqui neste blogue, num post chamado “O bom senso começa a vir ao de cima”, o seguinte:

«Neste momento impõe-se reequacionar estrategicamente toda esta questão da nova rede ferroviária e estabelecer definitivamente aquelas que deveriam ter sido sempre as prioridades nas ligações internacionais: a mudança de bitola e o escoamento de mercadorias para a Europa utilizando o eixo Irun – Salamanca. Os TGV não nos ligam à Europa. No máximo, com o traçado proposto, ligam Lisboa a Madrid e deixam mais de metade dos portugueses e mais de metade da economia nacional de fora. É hora também de deixar de pensar a Linha do Douro apenas como detentora de um grande potencial turístico. É inquestionável que o tem, mas o seu grande contributo para a “estruturação da Ibéria” será mesmo a sua reactivação para o transporte de mercadorias e abrir o Atlântico ao grande porto seco de Salamanca e ao nó logístico de Valladolid. O Porto de Leixões é a porta atlântica de excelência para toda a Castela interior.»

Hoje a TVI passou uma reportagem muito esclarecedora sobre este assunto. Portugal arrisca-se, por cegueira, a ficar ferroviariamente isolado da Europa, em particular no que respeita ao tráfego de mercadorias. Esta questão, por umbiguismo centralista, é ainda mais premente no que respeita ao Porto e ao Norte: no nosso caso – coração da (ainda) principal região exportadora portuguesa - arriscamo-nos mesmo a ficar até isolados de Lisboa, a única região que poderá vir a ter uma ligação internacional em bitola europeia para mercadorias tendo em consideração que, segundo as últimas notícias, Portugal pediu aos espanhóis para que a ligação Porto-Vigo seja apenas para passageiros. Para o noroeste português o objectivo URGENTE é conseguir uma ligação ferroviária em bitola europeia a Valladolid. Se isso não for conseguido através do eixo Aveiro-Salamanca, como tudo indica, que seja feito através da Linha do Douro, que já ligou directamente o Porto de Leixões a Salamanca, transformando-a numa linha de bitola europeia. Esta linha tem a vantagem de fazer avançar o terminal marítimo de Leixões 100 km para o interior da Ibéria. Na costa portuguesa é materialmente impossível existir outro porto mais próximo de Madrid.

No debate que também hoje a TVI24 levou a efeito sobre o assunto o enviesamento centralista também foi evidente: discutiu-se apenas Lisboa e Sines. Para estes protagonistas Portugal resume-se a estes dois pontos. Os próprios estudos da RAVE provam que a região de maior tráfego, tanto de passageiros como de mercadorias, entre Portugal e Espanha é o eixo Porto/Noroeste – Madrid e não Lisboa-Madrid. A prioridade dada a esta ligação é uma cretinice política e uma aberração económica.

Eu estranho o silêncio da Comunidade Portuária de Leixões sobre este assunto. Provavelmente vai deixar-se ultrapassar e o Porto de Leixões acabará por definhar por falta de ligações ferroviárias viáveis. O futuro, ao que tudo indica, viajará de comboio e não de camião.

António Alves
maquinistas.org