De: José Ferraz Alves - "O unanimismo das «elites» sobre a fusão AIP e AEP"

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-16 11:32

Lisboa e Portugal


Agradeço este primeiro ensaio de um trabalho de Diogo Oliveira, que apresento como ilustração deste meu comentário. E, de facto, uma imagem vale mais do que mil palavras. Passando os olhos pelos jornais do dia, é unânime o aplauso a esta fusão de associações empresariais. Mas, auscultando os simples cidadãos, a indignação com este processo é geral. Mas que divórcio é este, entre as tais elites e o povo, que muito bem se vem discutindo n'A Baixa do Porto?

Muito sinceramente, as coisas estão a correr tão mal no país que ninguém que se apresente hoje como responsável seja pelo que for se pode arvorar a ser superior, quer intelectual quer moralmente, a quem quer que seja. Nunca o deve fazer. Mas nas actuais circunstâncias de um país complemente falhado, dever-se-ia pensar mais um pouco antes de determinadas decisões. E, como está tudo tão mal, porque não se colocar o cenário completamente oposto ao que vem sendo feito? É que nada muda neste país! Pudera, são sempre os mesmos a decidir, em perfeita sintonia e defesa de interesses instalados. E aplaudem-se e congratulam-se uns aos outros. Já sei que seria de bom-tom dizer que tudo isto faz sentido. Assim, também receberia umas palmadinhas nas costas destes senhores destas elites. Mas a minha opinião é que as nossas elites são muito inteligentes mas também arrogantes, autistas e parcialmente muito cobardes, sem capacidade de assumir qualquer risco que coloque em causa a sua excelente vidinha.

E reitero a estupefacção e indignação de Alexandre Ferreira pelas palavras e actos posteriores do Sr. Eng.º José António Barros, tendo aquelas sido recentemente proferidas no Clube Literário do Porto, justificando a intervenção da AEP na constituição de um Centro de Congresso no Pavilhão Rosa Mota como uma defesa de interesses, sobretudo do Coliseu do Porto, que seriam afectados pela intervenção da Parque Expo de Lisboa neste processo. Já agora, as três árvores que estão em causa, e os seus defensores, que me perdoem, mas há assuntos bem mais graves na cidade, nomeadamente, este da fusão empresarial e a “betãozização” silenciosa e galopante do Parque da Cidade, que aí consubstancia a opção Portela + 1 de Lisboa, dado que já cá temos no Parque da Cidade um AFSC + 1 (“sic Alexandre Ferreira”), para além de garagens de pneus, taipais delimitadores e barracões para uso do Sport Club do Porto. Aliás, é precisamente esta capacidade que alguns na cidade têm de perder muito tempo com pouca coisa que nos tem levado a este afundamento e empobrecimento progressivo. Cada vez há mais desempregados e baixos salários no Grande Porto, e convém de uma vez por todas olhar para o essencial. Que é não existiram ofertas qualificadas de emprego na região, porque todas são concentradas em Lisboa.

Respondo sobretudo ao editorial de hoje do Pedro Santos Guerreiro, a propósito do tema da fusão no sector empresarial, porque quero desafiá-lo, e a todos, a questionar verdades fáceis e absolutas. Aliás, sem pensar muito, quem não concorda com o que lá é referido? Mas… Porque é que o associativismo empresarial em Portugal se tornou um velho solteirão, doente, vicioso e vendido à irrelevância? A perda de voz pela AIP e AEP, que partilhavam regionalmente o sector empresarial nacional, resultou mesmo de um adormecimento causado pela subsidiação? Pois, uma parte desta resposta já foi dada pelo Pedro Guerreiro, “a CIP, mais pequena e livre, reassumiu um protagonismo…” MAIS PEQUENA E LIVRE. Exactamente o oposto deste processo. A fusão era mesmo uma necessidade óbvia e uma ambição de todos? E de facto onde está o incompetente exemplo de gestão, de incapacidade de união, de visão feudal, de regionalismo, de necessidade de protagonismo, de desconfiança, de subsídio-dependência? O objectivo é que esta confederação tenha poder e responsabilidade de exigir ao Governo. Mas o quê? O pressionar para alterar leis, opinar sobre a gestão de programas públicos de apoio ao investimento e decisões sobre as nossas taxas é mais nobre do que se ser subsídio-dependente?

O único poder que pode exigir o que quer que seja de um Governo é o que decorre de um processo eleitoral e da escolha de programas políticos. O nosso, do povo. Tudo o que aqui é claramente apelidado de poder e responsabilidade na relação com um Governo interfere com as regras de um regime democrático. Como eu sou do povo, só estou preocupado com postos de trabalho qualificados que serão deslocalizados do Grande Porto, com o despudor da sua substituição por um departamento especializado no Porto e com o atropelo e esquecimento a quem fez 160 anos de história empresarial.

José Ferraz Alves