De: Victor Sousa - "A Quinta do Covelo"

Submetido por taf em Segunda, 2009-08-24 21:25

Quinta do Covelo


Este é um perfeito exemplo do que é o centralismo que nos (des)governa. Actualmente, é este o aspecto do equipamento. Mas vale a pena conhecer-lhe a história.

Ainda o Marquês de Pombal não “reinava” em Portugal, já um fidalgo da Casa Real, Pães de Andrade, se encantava com a zona, e por isso mandou ali construir (1730) uma quinta. Começou por chamar-lhe do Lindo Vale, mas depois achou que Bela Vista lhe calhava melhor. À época, a zona não fazia parte dos domínios da cidade, onde só se integraria nos anos de 1837. Entretanto já nestes anos, a propriedade passa para a posse de um rico comerciante, Manuel José Covelo, donde lhe vem o nome actual. Mas os andares da vida levam à sua venda e por isso, já no século XX, o seu proprietário é outro comerciante, chamado António Paranhos. Este, num gesto altruísta, perante a epidemia de tuberculose que grassa, faz dela doação, organismo oficial de Luta Contra a Tuberculose. Como entretanto esta regride, o hospital de apoio não se constrói. Mas nestes entretantos, um filho ilegítimo do doador recorre aos tribunais, buscando a herança que a quinta constitui, e o tribunal reconhece a paternidade, e atribui-lhe 54% do seu valor.

Nos anos 50, o Plano Auzelle considera que esta área deve ser preservada como uma das zonas verdes da cidade, e eventuais ambições de “progresso” são cerceadas. Após o 25 de Abril, e por acção da Junta de Freguesia de Paranhos, a Câmara do Porto adquire (1982), parte desta quinta. Exactamente os 54% da legítima. O Ministério da Saúde fez-se então dono dos 46% restantes, provindos da doação do cidadão da cidade, que já então integrava esta zona. Em 1989 faz-se um plano de ordenação e beneficiação, com a entrada da Quinta a aproveitar a majestade e beleza do edifício agora em degradação. O JN publica uma foto com a maqueta daquela entrada, que sai do lápis do arquitecto Paulo Calapez. Mas como todos sabemos, nada se fez. Parece que os negociantes do Ministério das Finanças, actual gestor daquela propriedade do Estado, tem perspectivas de grandes lucros. Pena o edifício não ser em Lisboa. Já tínhamos mais uma frente em recuperação…

(ver JN de 9 de Janeiro de 1989, página 11)