De: José Ferraz Alves - "Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua"

Submetido por taf em Sexta, 2009-08-21 23:59

Caro Nuno Brito Jorge

A questão da regionalização como organização administrativa para um mais eficaz desenvolvimento local é um excelente tema e agradeço tê-lo sugerido. Até porque a essência da criação da Rede Norte surge de uma constatação de que, entre as dimensões local e nacional, existe uma outra que nos parece mais eficaz para o efectivo desenvolvimento económico das populações locais, porque para isso se exige uma escala mínima de recursos e de território, a regional.

O Vale do Tua nem sequer sub-região o é, pelo que criar uma multiplicidade de entidades que são locais pode não ser eficaz na construção de respostas estruturantes, que possam depois alavancar pequenos projectos de empreendedorismo que criem riqueza e emprego fora dos grandes centros urbanos. Para isso precisamos de ideias, de projectos, de pessoas e de recursos financeiros, assentes num modelo de administração mais adequado e mais rápido em decisões que não bloqueiem a iniciativa privada, nem projectos inovadores de cariz bem local como o das energias das ondas na Foz do Douro, ainda à espera de um papel qualquer do Ministério do Ambiente de Lisboa.

Faz sentido uma Agência para o Desenvolvimento da Região Norte ou, quando muito, das Sub-Regiões do Douro e de Trás-os-Montes. Não se desça a uma escala mais local, porque depois não há poder de decisão nem de influência para criar projectos que abarcam mais do que uma localidade. Depois precisamos de uma Federação de Associações que se perderá nas burocracias e estatutos que lhe serão endógenas e de nenhuma relevância material. E, de preferência, que seja de cariz privado sem flutuações de cariz político conjuntural. Que tenha efectivo poder.

Sobre esta questão das barragens, já escrevi que não sou contra a competência da EDP em seguir os seus projectos e responder aos seus accionistas. E já critiquei a facilidade com que diferentes autarcas vão aceitando estas compensações financeiras sem procurar projectos alternativos mais ricos para as populações. Sendo que a responsabilidade é de todos, porque nós somos um povo muito pouco empreendedor e lutador. Sendo que eu não sou contra a energia hídrica e nem todas as realidades são iguais. Não se devia ter avançado no Sabor e é muito grave destruir uma linha como a do Tua.

Na Rede Norte abraçamos esta causa procurando projectos alternativos, que assentam nos cruzeiros ferroviários que tanto sucesso estão a ter no Norte de Espanha e que permitirão aos milhares de turistas que vão chegar ao Terminal de Cruzeiros de Leixões poder chegar rapidamente ao Douro e aos seus produtos, quintas e gastronomia. A linha do Douro deve articular-se com a do Tua e juntar 3 patrimónios da Humanidade: Porto - Alto Douro Vinhateiro - Salamanca. Isto é um projecto de uma região, não do Vale do Tua, mas que desta forma seria integrado e defendido. Os madrilenos podem vir a estar a 1h30m deste triângulo e é um erro de política nacional não lutar pela ligação de Bragança a Puebla Sanábria e Alta Velocidade Espanhola. A oferta é que cria a sua própria procura, e isto nunca foi feito, pelo que não há procura. O sucesso do turismo fluvial no Douro, contra decisores nacionais e que resulta da luta de uma só pessoa, é disso bem revelador.

O desenvolvimento desta região nunca foi visto desta forma mais estruturada e hoje é a sub-região mais pobre da UE 27. Precisamos de projectos, e nós na Rede Norte entrámos em contacto com o ISAG no Porto e com a Universidade de Santiago de Compostela, para a dinamização de animação turística associada a Águas Bravas, das quais já vivem dezenas de micro-empresas. Eu próprio tenho um projecto de Turismo de Saúde com a criação de um Hospital de Medicinas Naturais, com área de investigação cientifica e pólo gratuito para atendimento aos mais pobres, que pretendo desenvolver numa aldeia abandonada da região, com apoio de médicos estrangeiros que viriam para cá. Os dinheiros da EDP apoiam este projecto? E estão disponíveis a enfrentar outros poderes já instalados e que bloqueiam tudo o que vem de outros?

Na minha última entrevista à RTV, finalmente e para não me alongar mais, porque ficava um dia seguido a escrever sobre isto - e estou a fazê-lo da minha toalha de praia, :-), aproveitando as maravilhas da tecnologia - falei na necessidade de um Banco Regional, tema que foi muito bem tomado pelo José Silva. Sabe, na minha humilde opinião, que esta ideia da importância de apoiar as PME's é mais um erro de enviesamento e vistas curtas de alguns políticos na detecção do problema do país, porque entendo que a questão estará em falta de poderes de decisão de proximidade, não tem a ver com a dimensão das empresas. Há projectos no Norte que não estão no terreno por falta de financiamento.

Nós teremos oportunidade de nos irmos cruzando, pelo que agradeço o que trouxe a debate neste Fórum. Estamos disponíveis no site da Rede Norte e Associação de Cidadãos do Porto. Há mais para falar e muito para fazer.

Cumprimentos
José Ferraz Alves