De: António Alves - "O bom senso começa a vir ao de cima"

Submetido por taf em Terça, 2009-08-11 16:35

O General Loureiro dos Santos e o Clube Via Norte publicaram este fim de semana dois artigos de opinião sobre o TGV que considero fundamentais para desmontar o argumento da prioridade e importância da projectada ligação Lisboa–Madrid por Badajoz. Finalmente o bom senso começa a vir ao de cima: personalidades e entidades influentes e idóneas começam a aperceber-se do logro que nos têm tentado vender. Eu já aqui e aqui tinha chamado a atenção sobre isso, e sobre a verdadeira casca de banana que o centralismo lisboeta estendeu a algumas personalidades e instituições do Norte com a Linha Aveiro-Salamanca, entretanto estrategicamente atirada para as calendas gregas, transformando o fantástico pi deitado num magnífico L de Lisboa. Há quem não aprenda nunca e seja até mais “cego” que o pobre do ditado – porque esse, quando a esmola é grande, desconfia.

Neste momento impõe-se reequacionar estrategicamente toda esta questão da nova rede ferroviária e estabelecer definitivamente aquelas que deveriam ter sido sempre as prioridades nas ligações internacionais: a mudança de bitola e o escoamento de mercadorias para a Europa utilizando o eixo Irun–Salamanca. Os TGV não nos ligam à Europa. No máximo, com o traçado proposto, ligam Lisboa a Madrid e deixam mais de metade dos portugueses e mais de metade da economia nacional de fora. É hora também de deixar de pensar a Linha do Douro apenas como detentora de um grande potencial turístico. É inquestionável que o tem, mas o seu grande contributo para a “estruturação da Ibéria” será mesmo a sua reactivação para o transporte de mercadorias e abrir o Atlântico ao grande porto seco de Salamanca e ao nó logístico de Valladolid. O Porto de Leixões é a porta atlântica de excelência para toda a Castela interior.

Mapa

Richard Florida identificou três mega regiões na Ibéria: a de Madrid, a de Barcelona-Lyon e uma na costa ocidental, talvez a maior, a que por compreensível ignorância chamou de Lisboa. Devia ter-lhe chamado mega região galaico-portuguesa porque é essa a realidade e no seu fulcro não está Lisboa mas sim todo o nosso noroeste atlântico. A charneira de toda esta região, porque equidistante dos seus extremos, e com meios logísticos para a potenciar, é o Grande Porto. Haja pensamento estratégico e ambição. Aproveitemos o que já existe. Nem sequer é preciso construir de novo.