De: José Ferraz Alves - "Onde estarão de facto as falhas? No Político, na Administração Pública ou em «nós»?"

Submetido por taf em Quinta, 2009-07-16 23:51

Li ontem várias tomadas de posição, e de dor, sobre o estado em que se encontra a nossa Baixa do Porto, em que se combinam atitudes de inconformismo com muita revolta e com perplexidade. Para concluir que, para agir, começar por se ter de querer, mas também por saber operacionalizar com eficácia. Para responder a esta questão entro com dois artigos saídos hoje no Jornal de Negócios, um de opinião, de Manuel Caldeira Cabral “Cuidado, os partidos muitas vezes cumprem o que prometem” e outro uma notícia sobre Promoção Turística, “O Mundo no Douro Agora, o Douro no Mundo, depois”. Para compreender o que quero concluir é preciso ler as notícias.

Estranhamente, e eu concordo, os políticos têm cumprido com as suas intenções! Nós agarramos sempre o lado mau das coisas. Já me estou a ver numa reunião da Associação de Cidadãos do Porto ou da Rede Norte a dizer isto e a sentir o corpo trespassado por olhares incrédulos pelo meu excesso de romantismo perante a vida. Não, político mente, e é preciso é mudar sistemas, e coisas no género. Eu continuo a achar que quase todos são bem intencionados e empenhados. E faço disso ponto de honra.

Agora, desafio a ler a segunda notícia. Em que é que os 40 embaixadores em Portugal – vindos de Lisboa – em passeio turístico pelo Douro, na companhia de responsáveis da Administração Pública local vão potenciar a afirmação da Região do Douro no Mundo? Para mim, para além de umas excelentes férias pagas, que só vão contribuir para esses responsáveis acharem que está tudo bem e que a crise anda bem longe, NADA! Por isso sairão menos eficazes para as acções de mudança que são necessárias. Sinceramente, para mim é mais um pretexto para se passarem um bons tempos em excelente companhia, num paraíso, pago por todos nós. Só que, aqui, a menor eficácia é mais da Administração Pública do que dos Políticos.

Já Francisco Sarsfield Cabral, no Público 2008.04.28, no seguinte artigo, referia o mesmo e apontava soluções:

“O dinheiro ou as parcerias?!
Um caso de provincianismo: não valorizar os correspondentes estrangeiros é provinciano e pouco inteligente.

… Ficamos satisfeitos por Cristiano Ronaldo ou José Mourinho se tornarem celebridades. Mas não chega. De vez em quando gastam-se milhões em propaganda colocada em jornais e revistas de outros países. No entanto, ignoram-se os correspondentes estrangeiros que estão entre nós e que, de forma mais eficaz e bem mais barata, poderiam contribuir para uma maior projecção de Portugal no mundo.

Na recente sessão comemorativa dos 30 anos da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal – realizada, não por acaso, na Fundação Mário Soares – foi chocante ouvir o que os vários correspondentes contaram sobre a maneira como os poderes públicos os ignoram e marginalizam. Desde a dificuldade de acesso destes correspondentes (que trabalham em regra isolados) aos membros do Governo e a altos dirigentes do Estado, blindados por assessores que nem sempre os atendem ao telefone nem respondem às suas chamadas, até à exigência corrente de exigir o envio de um e-mail para as mais singelas perguntas (como saber a hora de uma conferência de imprensa), não faltaram exemplos raiando o absurdo.

A excepção terá sido um secretário de Estado do Turismo, Alexandre Relvas, que percebeu as vantagens de convidar um grupo de correspondentes estrangeiros para uma viagem no Douro, em vez de comprar caríssimas páginas de publicidade na imprensa internacional. Até porque as pessoas acreditam mais em artigos de jornalistas do que em anúncios …”

Devemos preocupar-nos em acusar políticos ou em sermos exigente e rigoroso com quem aplica mal? Isto leva-me a um outro ponto, de reflexão, sobre o empenho que cada um de nós terá de ter na sua própria acção prática. Como cidadãos, aos abster-nos de acções políticas, ao não votar, não estamos só a prejudicar os políticos e sua acção, talvez estejamos mais a premiar os verdadeiros ineficazes. E a política de que Portugal mais precisa é a de premiar o mérito e de responsabilizar os incapazes. Pois, isso significa que temos de sair da preguiça e dos bastidores. E pode-nos calhar a nós esse prémio ou esse castigo. Mas acreditem que é por aqui.