De: TAF - "Os valores de referência"

Submetido por admin em Sábado, 2006-07-08 17:18

O Francisco indicou aqui a sua opinião sobre os valores de referência para o metro quadrado de habitação. Sendo apenas um amador, vou-me atrever a comentar aquilo que diz um promotor imobiliário profissional. :-)

1. Concordo com ele no que se refere à enorme variação que pode (e deve) existir. Há situações completamente distintas em termos de qualidade (no sentido mais lato) da oferta.

2. Há também alguns compradores/arrendatários que têm possibilidade de pagar seja lá o que for para conseguirem a habitação que pretendem. Para esses casos quase não existe limite superior àquilo que o promotor pode propor. Pode ser um negócio por “paixão” do cliente, por praticamente não haver oferta alternativa com determinadas características, por ser considerado um bom investimento. É um pouco como o mercado da Arte.

3. A esmagadora maioria das pessoas não tem nenhuma possibilidade de adquirir habitação a preços superiores a, digamos, 1.500 euros/m2, e mesmo assim sabe Deus… Não tem, nem vai ter nos 10 anos mais próximos. Idem para os valores proporcionais em caso de arrendamento.

4. Os custos de (re)construção, se ela for optimizada em termos técnicos (havia tanto que dizer sobre isto!) e se dispensar “luxos” como a domótica (ainda estou para ser convencido, eu que sou engenheiro electrotécnico, da sua real utilidade além da vertente lúdica…), nunca justificam só por si, em situações “normais”, valores superiores a 1.000 euros/m2.

5. A isto é preciso acrescer os custos de aquisição da propriedade, de projecto, licenciamento, comercialização, etc. O próprio tempo tem um custo muitíssimo significativo – é aliás uma das componentes onde há maior margem para optimização.

6. Com a enorme oferta que existe na periferia do Porto, não acredito que um número significativo de pessoas venha para a Baixa havendo alternativas a metade do preço na Maia, Gondomar, Gaia, etc. Mesmo que a qualidade não seja comparável. Mesmo que não suscite a “paixão” equivalente.

7. É fundamental que na Baixa passem a viver e trabalhar pessoas de todas as classes sociais. Isso só se consegue com uma oferta diversificada, e proporcional à capacidade dos potenciais compradores/inquilinos. Realisticamente, é preciso que haja imóveis a 1.000 euros/m2, e a 1.200, e a 1.500, e a 2.000, e a 3.000, … É fundamental também que o Estado passe a integrar pessoas com dificuldades financeiras em condomínios “normais”, de promotores privados, apoiando-as devidamente, em vez de as segregar em “bairros sociais” que a autarquia tantas vezes não sabe gerir.

8. Uma das melhores maneiras de cada um de nós conseguir o espaço que lhe interessa, a bom preço, é organizarmo-nos e tomarmos nós próprios a iniciativa. Por exemplo, é melhor uma cooperativa contratar uma empresa como a do Francisco para gerir profissionalmente a criação de um empreendimento feito segundo as especificações dos cooperantes, do que estar cada um de nós isoladamente à espera que apareça no mercado algo que lhe sirva. E quem diz cooperativa diz outro tipo qualquer de organização, o que for mais apropriado para cada situação concreta. É por isso que eu volto a sugerir que me enviem os contactos de gente interessada em vir para a Baixa. ;-)

PS: O quarteirão Mouzinho-Flores n'A Outra Face