De: Manuel Leitão - "Responsabilidade social, precisa-se"

Submetido por taf em Quarta, 2009-02-25 17:34

No post de Pedro Menezes Simões de 19 do corrente, parece-me que a história não está bem contada: em 2004, nos 30 anos do 25 de Abril, a Câmara Municipal do Porto promoveu uma série de conferências sobre a efeméride, para o que muito democraticamente (ainda Rui Rio não tinha maioria absoluta…) convidou personalidades destacadas, de diversos quadrantes políticos, com ela relacionadas. No decorrer duma delas, a que assisti e que tinha o general Vasco Gonçalves como convidado, a questão foi levantada por um presente e, resumidamente, foi lembrado que a Sonae original, por ter como accionista principal um dos bancos então nacionalizados (bons tempos, em que o Estado o fazia e não era para salvar banqueiros incompetentes ou mesmo corruptos…), embora desfrutando de uma boa situação económica graças à situação de monopólio de que os produtos que fabricava detinham no mercado, foi por decreto governamental nacionalizada também. O que se seguiu e que envolve a tal greve, greve confessadamente exclusivamente política – é só consultar a entrevista a Belmiro de Azevedo ao Diário Económico de 20 de Março de 2003 – envolve a compra de acções que entretanto, estavam parcialmente nas mãos dos trabalhadores da empresa. No entanto, face ao encerramento da Bolsa, tais acções não podiam ser aí transaccionadas pelo que uma boa parte foi aliciada a vendê-las ao preço da uva mijona ao chefe da comissão de trabalhadores (e quem era ele, quem era?) que assim, e após outras voltas da vida envolvendo os herdeiros do proprietário original, ficou a deter a maioria do capital da empresa. Depois, a história seguiu o seu caminho, cheio de peripécias, estando, hoje, boa parte disto mais ou menos esquecida. Mas é bom preservar a memória para melhor poder entender o presente e preparar o futuro.

Ora, vem ao caso a distribuição de “Modelos de Referência” pela CMP por feitos de relevo que terão praticado, ora o corticeiro A, ora o engenheiro B, ora o gestor C. A minha pergunta é muito simples: quem (e com que critérios) escolheu os nomeados para estes “Óscares” à moda duma certa forma de ver o Porto? E está assegurado que Rui Rio não dará com os burrinhos na água como aquando das chaves da cidade recusadas por Manuel de Oliveira? Não seria mais adequado à difícil época por que passamos, de descalabro económico e social, já não digo ter a coragem de pôr os nomes aos bois mas, por exemplo, lembrar aos que tendo riqueza pessoal e sendo do Porto – e a outros que, não sendo tripeiros, aqui enriqueceram - a sua responsabilidade social e a das suas empresas? E as notícias do fiasco do shopping da Trindade? Se vai fechar e ficar ao abandono, tornando-se em mais um ponto negro da Baixa, porque não transformá-lo num hotel social (coisa inexistente em Portugal, mas já bastante comum noutros países, alguns deles até menos desenvolvidos que nós) para aí acomodar os sem abrigo já abundantes e outros que, infelizmente, tudo leva a crer, irão proliferar? É um repto a esses celebrados capitalistas que têm agora oportunidade de mostrar que não são tão insensíveis como muitos julgam. A Câmara do Porto faria bem melhor se se dedicasse a estas questões, que são as que estão na ordem do dia, em parceria com a tão badalada “sociedade civil” (o que é isso?) e até com a “sociedade militar” - porque não, se esta tiver vontade e meios para participar?