De: F. Rocha Antunes - "Não percebi bem mas..."

Submetido por taf em Sexta, 2009-02-06 22:58

Caro Vitor Silva,

Temo não ter percebido muito bem o que quis dizer, mas admito que a falha seja minha. Ainda assim vou arriscar comentar.

Começando pelos números: em 2007, o último ano publicado pelo INE, haviam 5.590.370 alojamentos clássicos para 3.852.207 famílias ditas clássicas. Ou seja, 1,45 fogos por família, apesar de tudo ainda bastante longe dos quase 2 fogos referidos por si. Para ter uma ideia da diferença, para que se atingisse o rácio de 2 fogos por família seriam precisos mais 2.114.044 fogos, ou seja, o dobro do que foi feito entre 1990 e 2000, o decénio de maior construção de casas da História de Portugal.

Voltando ao número inicial, o facto de haver 5.590.370 fogos dá, por si só, uma ideia da importância económica do sector. Se continuarmos a fazer um exercício simples podemos ver o que isso significa. Imaginemos que o valor médio por fogo é, de forma assumidamente conservadora, de 50.000 euros. Concordará comigo que não estou a exagerar quando disser que essas casas todas valem, pelo menos, 279.518.500.000 euros. Para termos uma referência do que isto quer dizer, o Produto Interno Bruto do País era, no 3º trimestre de 2008, e também segundo o INE, de 41.767,8 Milhões de euros. Ou seja, o valor das casas em Portugal vale, por baixo, o equivalente a 6 anos e 8 meses de produção da riqueza de todo o País. Se somar o valor do resto, ou seja, dos escritórios, das lojas, dos estacionamentos, dos edifícios públicos é capaz de concordar até que se calhar não é exagerada a importância que o imobiliário tem na vida de todos nós.

Se quiser imaginar a quantidade de pessoas que, mesmo que não se construa nenhuma casa nova, dependem deste património para outras coisas que não apenas morar (e este “apenas morar” só pode ser uma simplificação de linguagem mesmo…) pode imaginar o que significa o impacto económico do mais simples dos trabalhos que uma habitação exige, a sua limpeza. Imaginemos que essa actividade, que pode ser desenvolvida por pessoas sem necessidade de grande qualificação tecnológica, que é contratado fora, ou seja, que não é feito pelos próprios ocupantes da casa. Se apenas 10% dos fogos forem limpos com o recurso a trabalho contratado estamos a falar de 559.037 prestações de serviço. Admitindo, prosseguindo no exemplo, que cada prestador de serviços de limpeza consegue acumular o serviço de limpeza de 8 casas, isso garante o sustento económico de 69.879 pessoas. E os exemplos multiplicam-se por cada actividade que se possa imaginar que seja necessária para uma casa, e utilizando a sua expressão, possa ser explorada.

Não me parece portanto que isto das casas tenha assim tão pouca importância e seja só despesa, como diz. Além do mais, nem toda a gente consegue viver numa casa, portanto tudo o que se possa fazer para aumentar a acessibilidade de todos à possibilidade de habitar numa é fundamental.

O que me parece que quis dizer, mas isto é um risco enorme que estou a correr, é de que o que lhe importa a si, que já mora numa casa, é saber quanto custa mantê-la de forma mais económica. Presumo que detalhes como pagá-la, seja por arrendamento ou empréstimo bancário, não sejam a sua preocupação. Se é proprietário de uma casa poderá contar com o valor patrimonial que a mesma tem. E não lhe vou explicar, nem com números nem de outra maneira qualquer, o que quer dizer um valor patrimonial de uma casa, por pequeno que seja, quando comparado com o rendimento médio de uma família portuguesa.

Cumprimentos,
Francisco Rocha Antunes
Gestor de Promoção Imobiliária