De: Ricardo Coelho - "Sobre a Democracia"

Submetido por taf em Sexta, 2008-10-24 19:52

Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo - Voltaire

Algumas pessoas que por aqui escrevem, como Pedro Aroso, Miguel Aroso e Jorge Azevedo aparentemente têm uma noção muito estreita de Democracia, característica que partilham, aliás, com o Presidente da Câmara do Porto. Todos os dias ouvimos reflexões deste tipo, que a Democracia tem de ser limitada, em nome de princípios tão vagos e subjectivos como o "bom senso" ou a "boa educação". Mas a discussão sobre os ordenados "principescos" levanta ainda outra questão: a da "verdade".

Uma máxima da Filosofia é a que diz que os seres humanos são subjectivos, apenas os objectos são objectivos. Ora, a adequação do adjectivo "principesco" quando aplicado aos salários auferidos pelas chefias de empresas municipais é uma questão altamente subjectiva. Daí que seja ridículo ver um Vereador defender que este tipo de afirmações são passíveis de processo-crime. Exemplificando, se um dirigente de uma empresa municipal ganhar, suponhamos, 5000 euros, eu diria que é um ordenado principesco mas haverá sempre quem discorde.

O absurdo da situação reside no facto de, até hoje, continuarmos sem saber qual o montante auferido pelos indivíduos que pretenderam "defender a sua honra" numa reunião do Executivo camarário. Só quando o soubermos podemos discutir (sem chegar a consenso, claro, mas também o consenso é inimigo da Democracia) se realmente se tratam de ordenados principescos.

Defender limitações à liberdade de expressão não é admissível. Eu também discordo de muito do que se diz neste blog, mas nunca me passaria pela cabeça defender que o seu criador, que fez um trabalho notável ao criar um espaço de discussão público onde até eu, que não sou ninguém, me posso exprimir, deve agora começar a cortar textos porque ferem a sensibilidade de alguns leitores. Se alguém discorda da posição que aqui defendi, que as empresas municipais apenas servem para distribuir jobs for the boys e que Rui Rio neste ponto tem telhados de vidro, que apresente argumentos contrários. Se alguém acha que o TAF está a fazer um mau trabalho, que forme um outro blog público sobre o Porto (se conseguir, claro). Querer limitar o direito de opinião dos outros, não. Já temos ditaduras a mais neste mundo.
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Ricardo Coelho