De: Pedro Bragança - "Mercados de Insucesso"

Submetido por taf em Segunda, 2008-08-18 21:47

Cada vez me convenço mais da política falhada para a cidade desde o início do século XX. Ou antes até. Enquanto era das raras cidades onde ainda se morria brutalmente de peste negra o Porto avançava com monumentais projectos, normalmente suportados pela associação comercial. Foi o primeiro projecto do mercado do Bolhão, depois a Avenida dos Aliados, o edifício da Câmara do Porto, o Terreiro da Sé e todos os outros erros no planeamento urbano que ainda hoje pagamos caro.

Para muitos ainda actualmente se comentem esses erros. Vejam-se os casos da discussão gerada pela requalificação da Avenida dos Aliados, da Cordoaria, da Avenida marítima em Matosinhos, dos Leões... Entendo que os dois principais mercados – Bolhão e Bom Sucesso (excluo o espaço do Ferreira Borges) – tornam claríssimo aquilo que podemos entender do espaço urbano de hoje do Porto. O espaço é forma e é função. Ninguém está à espera da cidade, que ela aconteça, que ela crie o seu próprio desenlace. Não há observadores de partida, nem medidores, nem estatística, nem programação multimédia. Sendo que a cidade é parte de todos nós, estamos a construí-la sempre que a discutimos e questionamos, sempre que a percorremos ao Domingo de manhã, sempre que estacionamos o carro em cima da linha amarela.

Lamento as lamentações (!) sobre os problemas do espaço quando fica por pensar o uso que lhe é dado, a adaptação das circunstâncias e acontecimentos às pedras de cada rua e às fachadas de cada edifício.

À parte da indiscutível questão da urgente reabilitação dos espaços públicos do Porto – como os Mercados, como as Ilhas, como o Barredo, como a Vitória – acredito que é ainda mais prioritária a reflexão acerca do uso que queremos dar a cada espaço, a avaliação da actualização de cada matéria, seja comercial, seja cultural, desportiva… E, assim, questionarmo-nos qual o modelo de reabilitação para um espaço que vai ser um mercado de frescos, ou um centro cultural, ou uma incubadora de empresas criativas. Antes de mais, torna-se fundamental, para se decidir como fazer, saber-se o que queremos fazer e de que modo queremos traçar o futuro do espaço urbano do Porto.

Trata-se de uma questão de opções, nenhuma tem de estar necessariamente errada, mas se o espaço corresponder a um programa, tanto melhor.

Cumprimentos
Pedro Bragança