De: TAF - "Indústrias Criativas"

Submetido por taf em Quarta, 2008-07-23 20:09

Flores em ferro soldado

Escultura em ferro de Ana Carvalho


Este evento, pelos vistos (ainda bem!), mereceu grande atenção. Os documentos do estudo (em PDF) podem ser obtidos aqui:

- Indústrias criativas: Porto tem tudo para ser internacionalmente competitivo - Tom Fleming
- Indústrias Criativas: Estudo internacional defende criação de Agência para o sector no Porto
- Competitividade: Norte prepara "cluster" de indústrias criativas
- CCDR-N vai lançar concurso para apoiar criação de cluster das indústrias criativas no Norte
- Porto pode sofrer de um "excesso de identidade", diz especialista em indústrias criativas
- Norte: Universidades da região devem apostar na "troca de talentos"
- “Agentes culturais devem saber explicar projectos a investidores”, defende ministro da Cultura
- É ao contrário (opinião de Vasco Campilho)
- Tom Fleming considera que o Porto tem potencial para indústrias criativas - áudio no Rádio Clube
- Área Metropolitana do Porto prepara-se para se tornar num pólo de indústrias criativas - vídeo na RTP

O programa da manhã tinha 3 partes: a apresentação do estudo, a conferência de Charles Landry, e as intervenções dos ministros. Na última, apesar de continuar na sala, eu já não estava com paciência suficiente para ouvir governantes, e por isso entretive-me a ler o estudo. :-) Quanto à conferência sobre "Creative Cities and Regions”, foi interessante mas não me trouxe nada de especialmente novo. Sublinho apenas um pensamento em particular (tradução livre): "devemos trabalhar nos limites das nossas competências, e não no centro delas - a criatividade e inovação estão cada vez mais na interligação entre áreas diferentes do conhecimento".

Quanto ao estudo. Ainda só li um documento de síntese com 40 e tal páginas (infelizmente não disponível online) e dei uma vista de olhos ao Relatório Final (que uso como base para as referências que vou fazer à frente). Pareceu-me bem quanto ao enquadramento, ao levantamento e à sistematização de sugestões de acção. Falhou um pouco, contudo, na "focagem" do plano concreto de acção. Passo a explicar.

A abordagem geral foi sensata. Viram o que se faz por esse mundo fora, falaram com os agentes locais do Porto e do Norte (lista na página 225) para identificarem o que cá já existe e para ouvirem as suas opiniões, perceberam a importância de não centrar a análise exclusivamente no Porto (embora nesse aspecto a apresentação em Serralves tenha sido menos feliz) mas ao mesmo tempo de potenciar a "marca Porto", são contra a atribuição de subsídios, assumiram a realidade urbana no terreno independentemente das divisões artificiais em concelhos demasiado pequenos, estabeleceram comparações para "benchmarking".

Propõem, com todas as cautelas para que não apareça mais uma estrutura parasita, a criação de uma "Agência para o Desenvolvimento Criativo do Norte de Portugal" (página 219) como uma parceria entre a CCRDN, Serralves, Casa da Música, Universidades, principais empresas do Sector Criativo, SRU, etc. (São parceiros a mais. Devia haver uma participação deles todos, mas de modo mais informal.) Seria uma entidade destinada a coordenar e a estimular esforços, promovendo um conjunto de programas de acção que são também apresentados (páginas 147 e seguintes). Teria uma actividade organizada em função desses programas, com início e fim definidos no tempo, em vez funcionar com base em departamentos fixos e permanentes - isso permitirá uma gestão optimizada, com recursos atribuídos em função das necessidades concretas do trabalho que estiver a ser realmente posto em prática.

Onde a coisa não corre tão bem é na quantidade/diversidade de Programas propostos. Não é que eles em geral não façam sentido. Qual é então o problema?

O problema está nos destinatários iniciais deste estudo: basicamente as pessoas/entidades que compareceram à apresentação em Serralves. Ou seja, as mesmas pessoas/entidades que até agora não encontraram soluções para o estado em que a região está e que, vendo um conjunto grande de propostas, vão inevitavelmente privilegiar aquelas que melhor compreendem numa primeira abordagem, aquelas com as quais se sentem mais "confortáveis". Moral da história: aquilo que seria realmente novo, que faria a diferença, que permitiria "dar o salto", vai ser deixado para segundo plano e, por fim, esquecido.

O que é que eu sugiro? Dos 25 programas propostos, escolher apenas 4:

  • - "Rede Criativa" - (página 162)
  • - "Comissariado Criativo" - (página 169)
  • - "Fundo de Investimento Especializado" - (página 189) - seria a referência "14.1" e não "15.1" como por gralha lá está
  • - "Auditoria Criativa" - (página 217)

Quase todos os restantes programas já deviam ser implementados, sem qualquer intervenção da Agência, pelas próprias Indústrias Criativas! É deixar o mercado funcionar. São oportunidades de negócio que podem/devem ser aproveitadas pelos agentes da região. Assim a Agência não exigiria uma estrutura pesada nem tinha o efeito perverso de fazer concorrência desleal às empresas que pretende ajudar a criar e desenvolver (o mal típico, aliás, provocado pelas universidades quando se dedicam a actividades que deviam deixar às empresas).

Em resumo: leia-se o estudo, aproveitem-se as ideias, lance-se a Agência numa versão absolutamente minimalista (com menos parceiros formais e apenas para os tais 4 programas), e vamos trabalhar! :-)