De: TAF - "Nuclear: sempre os mesmos erros..."

Submetido por taf em Quarta, 2008-07-16 23:10

Fogo de artifício no S. João


De forma telegráfica, sem a preocupação de ser exaustivo, deixo aqui alguns argumentos sobre a construção de uma central nuclear em Portugal, que me parece um total disparate só compreensível porque as pessoas que a defendem, estando de boa fé, não pensaram bem no assunto.

1) Por menor que eventualmente seja o risco, um acidente numa central nuclear (mesmo das mais modernas) pode ter consequências absolutamente catastróficas. Já sei que temos centrais aqui à nossa beira em Espanha, mas "perdidos por cem, perdidos por mil" não é argumento. Mesmo aceitando que o risco de falha técnica/humana poderia ser desprezado (o que está longe de ser pacífico), há sempre vulnerabilidade a acções terroristas - que belo alvo!

2) A energia produzida por uma central nuclear é barata. É. Se não considerarmos os custos de tratamento e armazenagem (por uma eternidade, literalmente) dos resíduos radioactivos (para os quais, aliás, não há nenhuma boa solução). Se não considerarmos os custos de vigilância e prevenção de acidentes/atentados. Etc, etc.

3) Vamos confiar no Estado para gerir um processo destes? Vamos entregar os estudos ao mesmo tipo de especialistas que defenderam a Ota? Que defendem o TGV? Que sistematicamente subavaliam os custos de seja lá o que for? Depois de já ter provado à saciedade a sua incompetência em planos grandiosos, é sensato confiar no Estado para mais um deles? Que fiabilidade terão as razões invocadas para um investimento desta grandeza? (Não me venham dizer que se consegue fazer tudo com investimento privado, porque há inevitavelmente um envolvimento público, directo ou indirecto, muito grande.)

4) Em vez de apostar na oferta de energia, não seria preferível investir um montante equivalente na redução da procura? Não seriam os resultados até mais compensadores?

5) Enquanto houver alternativas (mesmo que "mais caras" ou "estrategicamente menos favoráveis" numa análise simplista), a prudência impõe que se opte por soluções diferentes. Pode ser que se consiga adiar por algumas dezenas de anos o recurso à energia nuclear produzida localmente (nem que seja recorrendo à importação!), até que esteja finalmente disponível a tecnologia de fusão nuclear, essa sim limpa e segura. Entretanto é apostar na poupança (principalmente) e noutras soluções (renováveis ou não) tentando não causar grandes danos ao ambiente.

6) Em último caso, eu preferia que Portugal entrasse em parceria no capital de alguma central implantada algures no estrangeiro, e importasse a energia mesmo sabendo que há algum desperdício no transporte (que, apesar de tudo, não é nada dramático), em vez de criar cá uma central de raiz.

7) Uma central nuclear cá em Portugal, e em particular no Douro onde já se chegou a ameaçar, arruina completamente a imagem de ambiente de qualidade que pretendemos "vender". Já se calculou o custo disso?