De: Pedro Bragança - "Porto Redux - excerto de uma proposta para o Mercado do Bolhão"

Submetido por taf em Quarta, 2008-05-21 01:24

Proposta para o Mercado do Bolhão

No seguimento do já falado PortoRedux (workshop) surgiram ideias com algum potencial. A organização do encontro baseava-se na divisão entre cinco grupos de jovens estudantes que vão, para o próximo mês, apresentar publicamente as suas propostas (contra-propostas, na verdade). No meu grupo temos algumas ideias de base fundamentadas aqui. (As fotomontagens serão publicadas depois da apresentação formal.)

Localizado na Baixa do Porto, o Mercado do Bolhão é referenciado como um exemplar arquitectónico do início do século XX, essencialmente por ser um dos primeiros edifícios da cidade construídos em betão. O seu projecto esteve marcado por um período político relativamente conturbado – de transição da monarquia para a república – e o seu progresso foi marcando objectivos distintos: um projecto monumental, que cobria a Rua de Sá da Bandeira e que previa uma grande área de mercado coberto evoluiu para um espaço idêntico ao que hoje podemos conhecer.

Este espaço comercial está, também, inserido num tecido urbano caracteristicamente do século XVIII e XIX com intervenções estruturais do XX e XXI (como o metro). Na actualidade, o comércio no mercado está relacionado, fundamentalmente, com frutas e legumes, flores, carnes e peixes (no interior) e cafés ou artigos de vestuário (no exterior).

Actualmente, tem-se vindo a tornar consensual a urgência de revitalizar o Mercado, pensando na modernização do espaço físico e na evolução do que à actividade diz respeito. Uma das perspectivas pode suportar um espaço flexível, móvel, adaptável a circunstâncias e que simultaneamente tenha condições de defender um quotidiano, uma rotina. Não se trata de uma alteração profunda ao que conhecemos hoje do Mercado mas – à medida do que acontece a cada dia com a cidade – pretende-se acrescentar valências, numa actualização que, no futuro, possa ser reconhecida à imagem da época em que vivemos e das influências que sofremos. Confia-se então numa intervenção light.

Nos novos usos, deve defender-se a manutenção do comércio de frescos e dia-a-dia que encontramos hoje, de bancas e de frente para a rua, tal como uma nova utilização relacionada com ateliers e serviços. O conceito poderia avançar, inclusivamente, para uma especialização no conceito; por exemplo, se a variabilidade fosse ao ponto de alterar o tipo de comércio e o objecto comercializável ao longo das diferentes épocas do ano (fruta da época…) ou apostando em mercado de preço justo, de novas dimensões, de onde saisse valorizado o preço, a qualidade e a diversidade. Dentro do referido conceito de mobilidade podemos encontrar, então, no mesmo espaço, em momentos distintos, o comércio de bancas, um espectáculo de teatro, uma passagem de modelos, um concerto de música ou um conjunto de acontecimento performativos espontâneos.

Claro está que um espaço dinâmico como o defendido requer organização e gestão, de modo a manter uma ordem, um conceito, resguardando qualidade e diversidade. Como consequência disso, é lógica a criação da figura do gestor ou programador – responsável máximo pela gestão do mercado.

A proposta apresentada pretende conciliar um mercado popular, sinónimo de transacção, modelo exemplar da entrada do mundo rural na cidade, com novos objectivos, relacionados com a modernidade e as urgências do momento que vivemos. É igualmente indiscutível a necessidade de conferir rentabilidade ao Bolhão; não sendo isto, necessária e exclusivamente, sinónimo de rentabilidade financeira, assumindo uma utilização cultural ou comercial correcta e adequada como objectivos fulcrais.

De modo a cumprir esse compromisso de mutabilidade, um sistema de contentores móveis sobre carris podia permitir um espaço com características diferentes, densidades opostas que variem entre a praça e o mercado na organização de hoje.

Seria exequível a utilização de uma cobertura de vidro que uniformize e reforce a ideia de contemporaneidade que se pretende introduzir no mercado com um desenho novo; cobertura essa, que mantivesse a sensação de exterioridade e luminosidade. Este elemento cumpriria uma função manifestamente exigida pelos comerciantes de hoje que, individualmente e de forma nada planeada, cobrem o pouco espaço exterior que lhes é confiado. No entanto, o desenho concebido é íntimo da espontaneidade consequente das ditas coberturas individuais de hoje; como se de uma memória se tratasse. O elemento plástico defende uma forma dinâmica imagem do que se pretende para um Bolhão contemporâneo, com uma sustentada perspectiva de futuro.

Cumprimentos
Pedro Bragança