De: David Afonso - "Léon"

Submetido por taf em Quinta, 2008-01-03 11:42

Léon    Léon


1. Com apenas dois dias de folga e pouco dinheiro no bolso resolvi visitar a cidade de León, que fica a pouco mais de três horas do Porto. O objectivo principal: MUSAC. Este museu justifica por si só a viagem porque é um edifício cativante e a instituição possui um fundo de alguma qualidade onde, apesar da sobrecarga de obras de artistas espanhóis, podemos encontrar a par de Douglas Gordon, Barry McGee e Christian Jankowski, trabalhos de Julião Sarmento, Joana Vasconcelos e João Onofre. E a entrada, meus senhores, é gratuita. Não sei qual será o impacto desta instituição na vida da cidade e da região, porém constatei que a sua presença é muito discreta: não existe qualquer sinalética urbana que oriente o forasteiro e no posto de turismo não existe qualquer informação especificamente produzida para a sua divulgação. Aliás, a própria funcionária esquecia-se de o referenciar no mapa se não fosse eu a questioná-la. Estranho… diria que não perceberam que têm ali um trunfo que pode ser tão importante quanto a magnífica catedral gótica. Fiquei ainda a meditar no seguinte: dada a proximidade geográfica, não faria sentido trocar material de divulgação entre Serralves e MUSAC? Existe público que não se importa nada de fazer algumas horas de caminho para ter acesso a este tipo de oferta cultural. Isto seria óptimo para ambas as partes. E se ainda se considerar Vigo e Santiago, temos uma potencial rede de arte contemporânea ibérica que, afinal, nem acaba em Madrid e muito menos em Lisboa…

2. Já não visitava León há 10 anos. As melhorias no centro histórico são evidentes: ruas e praças foram requalificadas (em particular a Plaza Mayor que em 97 estava absolutamente decadente e que agora alberga unidades hoteleiras e o mercado tradicional de Léon), existem poucos prédios devolutos e a animação da rua é constante (apesar dos -3 graus). Não é um centro histórico deslumbrante, mas a cidade lida bem com o que tem e pressente-se um grande afecto pelo que é seu e pelas suas tradições (a título de exemplo, devo dizer que o vinho da região - o Bierzo - é consumido a copo em todos os bares, discotecas e restaurantes, uma boa prática que deveríamos importar). Notei ainda com bastante satisfação que a Calle Generalissimo Franco se chama agora simplesmente Calle Ancha, o que por si só torna o ar bem mais respirável.

3. No entanto, é no comércio tradicional que se nota o maior salto qualitativo. Há 10 anos atrás, a oferta era escassa e pouco atraente. No centro histórico era difícil encontrar qualquer loja digna de interesse, algumas delas faziam-me lembrar as mercearias "tem-tudo" típicas das nossas aldeias. Hoje, a oferta é diversificada e o serviço prestado mais profissional. Ora, isto não é por acaso. Os comerciantes leoneses fizeram pela vida e apostaram no trabalho em rede, reestruturando o tecido comercial em função da evolução da procura. Desenvolveram o conceito de centro comercial ao ar livre sob a denominação de León Centro Gótico. Cada estabelecimento desta rede ostenta um dístico que o identifica como estabelecimento aderente, o que significa garantia de qualidade e acesso a promoções especiais para o consumidor comum ou associado. É possível adquirir um cartão de cliente que dá acesso a descontos exclusivos e a modalidades de pagamento alternativas. Todo o material gráfico de marketing promocional é igual para todos os estabelecimentos, o que ajuda a criar a imagem de centro comercial. Existe ainda um site de apoio, uma espécie de extensão da relação comerciante-cliente. Não sei se esta estratégia de concertação de esforços se estende a outras áreas de interesse comum ou não, ou seja, não sei se existe partilha de custos na segurança, limpeza, promoção e outros. Mas, pelo que vi, não me admirava nada que assim fosse. O que interessa é que este exemplo demonstra ser viável o comércio nos centros históricos. Convinha que algumas das nossas associações de comerciantes locais, em particular a Associação de Comerciantes do Porto, dessem uma vista de olhos nisto. Ah! Não havia por ali qualquer árvore de natal maior-do-que-sei-lá-o-quê.

PS1: Se for a León, não deixe de ir à excelente Librería Pastor.
PS2: UM BOM ANO NOVO PARA TODOS!

David Afonso