De: Luís de Sousa - "Projecto Cedofeita"

Submetido por taf em Quinta, 2007-10-18 22:52

A ideia de uma rua totalmente ou parcialmente coberta é, em termos conceptuais, um espaço com elevado valor espacial pois por um lado assume-se como um acto excepcional e original de intervenção no espaço público e por outro pode vir a tornar-se uma mais-valia para a própria cidade ao afirmar-se como uma peça de referência na monotonia do contexto arquitectónico contemporâneo portuense.

Agora as questões levantadas pelo Pedro Lessa são pertinentes, afinal a cobertura é da responsabilidade de quem em termos de concepção, construção e manutenção?

Uma obra desta importância e desta envergadura é obviamente uma questão pública, logo onde a autarquia tem responsabilidades, pois os comerciantes nesta situação apenas serão beneficiados de alguma forma com a sua implementação caso se verifique um aumento no número de pessoas que se desloca através daquela rua. Isto significa portanto que o cidadão comum irá beneficiar fortemente com a nova configuração desta rua dita comercial, já que esta passará a ser mais um espaço público a que ele terá livre acesso na sua cidade. É que pelo facto da rua passar a ser coberta, não a devemos encarar como um shopping (espaço comercial privado de acesso condicionado) onde os comerciantes são utentes de uma entidade que gere os espaços comuns entre as lojas e que têm data de abertura e de fecho e onde só circula quem cumprir as exigências dessa entidade privada. Portanto penso que os comerciantes já pagam as suas contribuições como qualquer cidadão e não devem ser obrigatoriamente os mecenas da melhoria dos espaços públicos adjacentes às suas lojas.

Por tudo isto que acabei de escrever acho que caso a Câmara Municipal decida dar qualquer tipo de apoio, e eu acho que deve, a esta iniciativa de munir a rua Cedofeita de um “novo céu”, deve obrigar o promotor, seja ele a associação de comerciantes ou outro, a abrir um concurso público de arquitectura para a concepção deste novo espaço público, para que mais uma vez se afirme o hábito de no momento de construir cidade a opção recaia sobre aquela que garante a maior qualidade para o cidadão e não outra. E isto também para que todos os arquitectos tenham a possibilidade de dar o seu contributo na valorização do espaço público, contexto intrínseco de toda a arquitectura. Os jovens arquitectos veriam com bons olhos este tipo de postura por parte da autarquia, e com certeza mobilizar-se-iam fortemente para dar resposta a este desafio já que estão fartos da realidade triste que vivemos nos últimos anos, onde uma política de construção de espaço público por convite tem negado o acesso a estes profissionais e cujos resultados por vezes menos felizes estão à vista.

Cumprimentos
Luís de Sousa