De: Emídio Gardé - "AV Porto-Vigo, Leixões e o Aeroporto"

Submetido por taf em Quinta, 2007-09-27 14:35

Embora eu seja apenas um curioso pela ferrovia, tenho-me, como provavelmente alguns dos leitores da "Baixa do Porto" se lembrarão, (pre)ocupado com a rentabilização dos ramais da Alfândega e de Leixões, que juntos e complementados com a rede de eléctrico existente na marginal, constituem uma verdadeira "circunvalação ferroviária" da cidade do Porto. Que poderia, e deveria, ser convenientemente aproveitada.

Algo se disse já do ramal da Alfândega. Mas muito mais do de Leixões. Que agora volta "à baila", não por passar em Leça do Bailio, mas pela hipótese de aí colocar a AV. A esse respeito tive ontem uma interessante troca de mensagens com um amigo (do GARRA) que, após alinhadas as ideias e autorizada a sua divulgação pública pelo próprio, aqui vão elas:

Esta da AV no Ramal de Leixões até ao Aeroporto parece-me, e parafraseando os nossos 'irmãos brasileiros', ser uma "estória para boi dormir". Senão, vejamos:

1. Quem pretende que haja, e está a fazer muita força nesse sentido, uma estação da AV Porto-Vigo no Aeroporto são a JM, a AC - «A construção de uma estação no aeroporto tem sido reivindicada pela Junta Metropolitana e pela Associação Comercial do Porto, mas tem sido afastada pelo Governo.» - bem como a AE do Porto, que são, todas, não muito bem quistas às cortes do reino. Falam demais e dizem coisas inconvenientes: até que o Norte é preterido em relação a Lisboa, etc., etc.

2. A AV/TGV Lisboa-Porto terminará a sua marcha em Campanhã. Este é um ponto já assente, para que a AV se possa interligar com facilidade à restante rede ferroviária. Isto é dizer que a AV Porto-Vigo, em linha nova ou remoçada, partirá dali. Ora a ligação entre Campanhã e Pedras Rubras não é das mais fáceis, em termos orográficos. A sinuosidade do Ramal de Leixões é prova disso: não estou a ver circulações a 250 km/h numa linha daquelas, ainda por cima 'espartilhada' entre zonas de elevada densidade urbana.

3. Algumas premissas - determinantes, penso eu - foram estabelecidas e divulgadas pela Senhora Secretária de Estado, a saber:

i) qualquer ligação ao Sá Carneiro não é para já: «"Seria impossível cumprir os prazos com uma estação no aeroporto", disse Ana Paula Vitorino, sublinhando que, em todo o caso, a alta velocidade (AV) "serve para ligar grandes centros urbanos e não aeroportos"». Só não dizem para quando é. Nem se é. [PS - ao contrário do referido na notícia do Correio da Manhã]

ii) a ligação Porto - Braga será aproveitada: «A governante reiterou que entre o Porto e Braga se vai aproveitar a linha já existente e que entre Braga e Valença será feita uma linha nova.» Ou seja, a directriz da linha é claramente na 'vertical' sul-norte (no mapa) e não oeste-este. Um pormenor: Barcelos e Viana do Castelo, que se estavam "a fazer" à AV, ficarão de fora. Ganhará Ponte de Lima que não chegou a ter o comboio no início do século passado... Bicudo irá ser a saída de Braga; a estação é terminal e não vejo muitos jeitos de a continuarem - a menos que o façam em túnel. Lá se vão descobrir mais vestígios romanos...

iii) são tudo meras hipóteses: «A ligação do aeroporto Francisco Sá Carneiro à rede de velocidade elevada entre o Porto e Vigo poderá ser feita através de uma extensão da linha da Trofa ou da construção de uma [nova] ligação directa a Braga,(...) No Porto, contudo, caso, numa segunda fase, (o negrito é meu) a AV passe pelo aeroporto, então "haverá uma estação".»

iv) a ligação a Leixões será predominantemente (se não exclusivamente) para carga: «a introdução da componente de transporte de mercadorias, as ligações ao aeroporto, à plataforma logística da Maia/Trofa e ao porto de Leixões - esta, provavelmente, através do ramal Campanhã-Leixões - são formas de viabilizar um projecto que é "estratégico"» . Ou seja um ramal para ir levar ou ir buscar mercadoria, não uma estação de trânsito onde as pessoas des/embarquem do avião para comboio e vice-versa.

v) de Campanhã a Leixões, ou ao Aeroporto, são meia dúzia de quilómetros. Duas estações de um comboio de alta velocidade (mesmo a 250 km/h) a esta distância? Não me parece exequível.

vi) penso que talvez fosse possível (e interessante) interligar o aeroporto a Leixões por ferrovia; mas só para mercadorias. Não vejo que haja volume de passageiros para os dois serviços (ferrovia e metro).

vii) Campanhã e o Aeroporto já estão ligados por "um rápido, moderno e atraente meio de transporte" sobre carris: o Metro do Porto. Que liga o Aeroporto a Campanhã em 32'58'', com um tempo de espera máximo de 20'. Ou seja, poucas ligações aéreas demoram menos tempo do que isso, pelo que não creio que um eventual comboio sub-urbano (a menos que fosse "expresso") fosse mais rápido.

viii) as linhas terminais ("de saco") existentes em Campanhã são mesmo ao lado da estação do metro - e estão agora completamente sub-aproveitadas (só saem de lá uma ou duas circulações por dia, para a Régua). E elas foram construídas "para o serviço inter-regional das linhas do Minho e do Douro", assumido que está (embora ainda não efectivado) que S. Bento passe, numa 1.ª fase (este é o país da fases!), a servir exclusivamente o serviço sub-urbano e, numa 2.ª, apenas com serviço de "transfer vai-e-vem" até Campanhã.

ix) Por último, vamos dar sempre ao mesmo: qual é o volume de passageiros com origem ou destino no Aeroporto? Justifica o investimento de mais um sistema de transporte, ainda por cima também por cima de carris? Será que a frequência do metro no Aeroporto (a cada 20') não é reveladora da escassez de procura?

Com os meus melhores cumprimentos,
Emídio Gardé