De: Luís Veludo - "Paladinos"

Submetido por taf em Sexta, 2007-06-22 22:33

Com atenção tenho lido as entrevistas concedidas pelo Dr. Paulo Morais, quer a mais chorosa dada à Visão aquando do pós-divórcio, quer este último remake com orçamento mais baixo com a qual nos presenteou o JN em 17 de Junho. Quer numa, quer noutra ainda não percebi o que esperar. Pelas palavras, temos sido presenteados com lugares comuns que, até então, eram domínio dos dirigentes de clubes de futebol que muito perdiam. Não vem dizer nada que já não se soubesse, mas não provou nada de que fosse capaz. Assim, segundo o Dr. Morais, temos o “sistema” adaptado à gestão autárquica. Temos o papão do financiamento os partidos e do urbanismo na mão de empreiteiros. Temos atropelos à democracia feitos por autarcas corruptos. E temos a frase enigmática “Rui Rio já não tira o sono aos grandes interesses instalados”.

Nem Lucas, George, argumentaria melhor. Este tipo de frases de efeito garantem pelo menos uma próxima entrevista quando já ninguém se lembrar qual foi o cargo que o Dr. Paulo Morais ocupou. Aliás, já que a maioria esqueceu, recorda-se que foi da caneta empunhada pela mão do Dr. Paulo Morais – salvo erro, pois eu inclusive já nem me lembro bem qual realmente era o seu cargo: Vereador do Urbanismo / Vice-presidente na CM Porto - que saiu a assinatura no despacho que, há dois anos atrás, decidiu que o Mercado do Bolhão estava prestes a cair e que era necessário interditar a ala sul. E colocar três quartos do mercado na Praça de Lisboa (devia ser para venderem cerveja aos pólos universitários )!!!

Mais se recorda que o seu despacho se baseava num parecer do LNEC onde se defendia que deveriam ser feitas obras de segurança ou, em alternativa, evacuar a ala sul do mercado. Claro que o, na altura, Delfim optou por colocar as pessoas na rua e matar o mercado. Era Verão e tudo indicava que, quando chegasse o Outono o Dr. Morais voltaria ao seu gabinete na CM Porto. No entanto não voltou, e voltou a aprender o que não deveria ter esquecido. Esqueceu-se que o Porto não dorme e que a sua população, em alturas de aperto, fica com as tripas mas luta. Ao contrário dos partidos políticos que ficam com a carne toda deixando, a quem é deitado fora, quando muito, com as espinhas na garganta…

Como vem nos manuais da estória, o mercado não caiu, ao contrário do Dr. Morais. Hoje vemos que se fizeram as obras suficientes mas não as necessárias. E, nestes dias aguardamos que o mercado seja dado como o Rivoli… Será que quem vai ficar com ele são os “grandes interesses instalados”?

Se até os peões que eram vaiados e afastados do mercado por andarem a fazer o papel que o Dr. Rui Rio não fez – entrar no Bolhão – lá voltaram enquanto membros de júris, tudo se avizinha como possível. Agora, decidem-se futuros. E a Associação de Comerciantes do Porto, pela sua Presidente a prazo, dá o seu voto ao mesmo tempo que envia cartas aos associados a propor apoio jurídico. Não seria antes lógico que se a ACP não concorda com a direcção em que o mercado vai ser entregue, em notório prejuízo dos seus associados dada a necessidade de “apoio jurídico”, não deveria antes tomar uma posição de força contra essa entrega? E sair de júri do concurso. É claro que é boa moeda fazer-se passar por quem serve Deus, mas sempre ir servindo o diabo.

Gostava de ver aqui uma resposta do Dr. Paulo Morais. Talvez a reconhecer que errou. Ou que o fizeram errar. Gostava de explicações para a razão de se ceder um espaço que se autofinancia. Desde que completo e reabilitado. Com dignidade e com o investimento de todos. Como se de um coração de uma cidade que vai perdendo pulmões. E pessoas, das que a fazem viver e ser única. Ser-se paladino de causas perdidas cai em duas regras: temos a nobreza da procura do Graal ou a demência de se lutar contra os proverbiais moinhos. Temos demasiados Quixotes de triste figura e muitos barões. Duques nem vê-los, e o que interessava era da Ribeira. Tem agora nome de praça porque salvava pessoas de morrer no rio.