De: Artur Vieira - "Verdadeiramente para além da questão do JN"

Submetido por taf em Sexta, 2007-06-22 13:24

Caro Hélder Sousa

O tempo que eu perdi a arrendondar o caso da pouco significativa manifestação em frente ao Rivoli resume-se, como é bom de constatar, às insignificantes três linhas do primeiro ponto 1.

Para mim, mais importante que fazer a contagem das érres que estavam na Pr. D. João ou do festim que é cada notícia do site da CMP é perceber o que há de tão errado em mudar o estado das coisas no Rivoli, qual é o perigo de conceder o espaço a privados para que o explorem, em ter salas cheias em vez de salas vazias, que outros espaços privados há em que a peça possa ser exibida, qual a razão para as pequenas companhias que antes utilizavam o Rivoli precisarem impreterivelmente daquela sala, e o porquê de não terem lugar noutro teatro público da cidade. Gostaria de ler os seus, e de outros, escritos a esse propósito. Estamos a discutir o acessório em vez do essencial.

Por definição, o Estado só intervém no mercado quando os privados não conseguem fazer face à procura, seja por incapacidade quantitativa ou qualitativa. Reparei que referiu exactamente isso num texto com quase um ano. No entanto, no Porto temos muito mais salas públicas do que privadas, temos um número incomensuravelmente superior de cadeiras pagas pelos impostos do que pagas pelos bilhetes. Não há, no Porto, uma programação cultural minimamente virada para as massas. Tirando pontos altos como a Queima das Fitas e alguma da programação do Coliseu, a nossa programação está virada para as minorias. Portanto, a concessão do Rivoli a privados para que lá exibam espectáculos verdadeiramente mainstream não faz mais do que trazer algum equilíbrio para o mercado cultural do Porto. E ainda bem.

A Câmara pode estar (e está) a agir mal na forma como está a abordar a questão, nomeadamente no site e no silêncio que mantém quanto ao acordo com La Féria. Mas, no essencial, a concessão do Rivoli a privados não é uma coisa errada. Aliás, concedesse o Estado mais funções aos privados e não estariamos no absurdo de ter uma televisão paga com dinheiros públicos com concursos e novelas iguais aos dos canais privados, um banco público para o qual são nomeados amigos de governantes e que, absurdo dos absurdos, a maior companhia de sumos se tenha tornado, desde há 2 anos, propriedade desse mesmo banco, etc. etc..

Cumprimentos,
Artur Vieira