De: Cristina Santos - "A Galiza familiar"

Submetido por taf em Quinta, 2007-06-07 14:40

As diferenças entre Vigo e o Porto são mínimas, a região da Galiza distingue-se da nossa pelo aproveitamento que faz do interior. Nas grandes cidades é basicamente igual, parca recolha de lixo, poluição, Corte Inglês, Zara. Galiza é espaço rural, é agricultura, pesca, indústria, turismo, consegue produzir parte substancial do que consome, explora todos os recursos da região.

A estratégia passa por dar resposta ao mercado interno e só depois ao exterior. A empresa galega Y produz parafusos, para a empresa galega X que produz portas, para a empresa galega H que exporta móveis de cozinha – economia de mercado. O Norte de Portugal apresenta tal desorientação que produz mais caro do que o consegue vender. Importamos peças para reparação automóvel porque não se produzem em Portugal, acabamos por importar artigos da concorrência estrangeira, que nem de marca são. Qual é dificuldade de nós produzirmos esses artigos? Nós não temos quem produza os parafusos e, a ter de os importar, mais vale importar a peça completa. Por detrás da indústria automóvel da Galiza há um enorme cluster de empresas familiares de produção de componentes, a exportação é uma meta, mas se ela não existir, a economia regional que entretanto se gera absorve parte substancial do produto fabricado.

Os galegos são desligados do Estado. O agricultor galego ao perceber que lhe sobra fruta todos os anos, não a vaza nas estradas nacionais, faz compota, primeiro de um forma familiar e depois industrializada. Mas o Estado também não chateia o galego, se a compota é feita por meios artesanais, o Estado classifica-a como produto natural, não fecha a pequena empresa só que porque não existem máquinas de esterilização. Permite que cada um produza com os meios que tem, partindo do principio que esse produtor mal tenha os meios financeiros necessários expande a sua economia. Deixa o mercado nascer e crescer.

O Norte de Portugal não tem autoridade ou autonomia para exigir a reposição da linha do Douro, quanto mais autonomia para mandar calcetar uma vila com uma Igreja de pedra e classificá-la como zona turística, associada a uma grande cidade. O Governo da Galiza tem esse poder, manda calcetar, traça autopistas, filma a zona e diz ao turista que tem interesse visitar. Dentro dessa Vila rapidamente se transformam vivendas em hostais, mercearias em mini-mercados. O Governo cria os acessos e divulga. A Vila apenas tem um cruzeiro, uma Igreja, uma bela paisagem e gente. A região é basta, começa-se na Cidade e termina-se em Santa Mariña de Augas Santas, tudo é Galiza.

Nós temos dessas Vilas, com as quais podíamos fazer um cluster turístico arrasador, não temos é meios eficientes que nos liguem a elas. Se tivermos independência e pudermos fazer essas ligações simples e rápidas, não só desenvolvemos o turismo, como a agricultura, os transportes, todas as áreas que um negócio envolve - economia produtiva interna.

Galiza é uma região aproveitada ao milímetro, sem preconceitos para com o interior, porque não existe interior, cada zona tem a sua valência, a sua actividade, tudo ligado por excelentes vias de deslocação. Quando o Norte de Portugal for uma região, com um só nome, ao dizê-lo estamos a incluir Porto, Braga, Régua, Bragança, Chaves, Viana e tudo o que intercala essas cidades. Cada qual com a sua economia natural, o granito, o vinho, a batata, o peixe. Com a sua indústria de acordo com a proximidade, o têxtil com excelente ligação a Ourense, indústria automóvel com a ligação a Vigo.

Se assim não for estamos condenados, já chegámos ao ponto em que o custo dos materiais é quase tanto como o da mão-de-obra. Depois disso é só descer. Braga vai ter que perceber regionalizar não é Portualizar, é agregar meios, é interligar uma região, onde Porto e Braga são apenas centros urbanos principais aos quais compete lutar pela Regionalização.

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Cristina Santos