De: Rui Valente - "Porque assusta a Regionalização?"

Submetido por taf em Sexta, 2007-05-25 22:57

No que respeita à minha opinião pessoal, relativamente às vantagens e desvantagens sobre a Regionalização Administrativa do país, acho que já escrevi aqui e noutros locais o suficiente para explicar porque lhe encontro mais vantagens. Se quisesse argumentar com exemplos práticos dessas vantagens, bastaria apresentar o da nossa vizinha Espanha (e de outros países), que teria motivos de sobra para convencer os mais cépticos. Mas, mesmo assim, estou certo que não iria faltar gente com todo o tipo de argumentos a tentar convencer-nos que o desenvolvimento de Espanha nada tem a ver com o facto de ser um país regionalizado. Eu acho que tem, e muito.

O que é de estranhar e incompreensível é este medo (sem ofensa) algo patológico que algumas pessoas têm da Regionalização se comparado com o pavor que deviam sentir sustentado na realidade concreta dos nossos dias, que é o espectáculo deprimente de verem o país e sobretudo a região a afundar-se cada vez mais. A situação actual é péssima, mas lembram-se porventura de alguma época de verdadeira prosperidade em Portugal, antes e pós 25 de Abril? É importante, para fazermos uma análise realista e honesta da situação do país, que não a façamos à luz da situação económica e social de cada um. O país não é apenas o espelho da minha vida pessoal, é principalmente o reflexo do bem estar da grande maioria da população. E essa, está efectivamente mal. Se nos esquecermos disto quando emitimos a nossa opinião, então estamos a prestar um péssimo serviço de cidadania e a contribuir para que tudo fique na mesma.

A abordagem que andamos a fazer sobre a Regionalização lembra-me a discussão do sexo dos anjos. Ontem esperávamos o sol, mas porque ele não apareceu, então, para amanhã, a solução é não saímos de casa porque pode chover... Tantas dúvidas, tantos medos, sem nada de objectivo que o justifique. Hoje é o receio do caciquismo local, amanhã é porque o desenho do mapa não satisfaz e depois é o da integridade nacional. Há sempre um mas. Então este medo da integridade nacional defende-se e fortalece-se intensificando as assimetrias regionais com a engorda de uma parcela mínima do país, empobrecendo a parte substancial do território? É com estes métodos que se vela pela coesão nacional, ou não será antes o contrário? A quem querem enganar?

Entretanto, persistimos em não querer entender que esses perigos nada têm a ver com a Regionalização, que é um problema cultural e de mentalidade gerado pelo actual sistema político que não foi devidamente saneado depois da ditadura. Será ainda preciso lembrar o que se está a passar na Câmara de Lisboa? Foi por acaso a Regionalização que fomentou toda aquela pouca-vergonha?

Meus caros, que fique bem claro que não crio demasiadas expectativas acerca da Regionalização (espero não ter de o escrever outra vez). A diferença é que é preferível dar o benefício da dúvida a um novo sistema político-administrativo do que passar mais cheques em branco (pensem bem se não é isso que temos feito) ao sistema vigente que nos tem dado motivos mais do que suficientes para nos certificarmos da sua ineficiência e mais profunda injustiça.

Rui Valente