De: Paulo Espinha - "OTA – Falta de Bom Senso?"

Submetido por taf em Sábado, 2007-04-28 21:51

O processo de planeamento referente ao novo aeroporto de Lisboa é de facto uma vergonha. E é uma vergonha que resulta da incompetência dos políticos, da ganância dos privados, sejam eles proprietários, banqueiros ou constructores, da parcialidade e dependência dos técnicos e da insustentável leveza dos jornalistas.

Algumas questões para reflexão:

  • Está por provar a dimensão relativa da verdadeira necessidade do aeroporto – se se considera, desde já, a hipótese de reequilibrar o tráfego entre os três principais aeroportos quando o novo aeroporto ficar saturado, porque não se exige à transportadora aérea nacional que o faça já hoje. Aliás, se o HUB é da TAP, porque não é ela a pagar o novo aeroporto ou, pelo menos, a comparticipar de modo significativo no seu custo? É que está também por provar a dimensão relativa da verdadeira capacidade de constituição de um segundo HUB ibérico – alguém quer dizer alguma coisinha sobre outros HUBs nacionais? E ainda, está por provar que as transportadoras de baixo preço queiram pagar hiper luxos de uma nova cidade aeroportuária?
     
  • Está por provar a idoneidade de qualquer estudo de impacte ambiental em que o promotor é o Estado e o fiscalizador é o Estado. Isto é, quando um privado propõe um empreendimento e manda fazer um estudo de impacte, este é rigorosamente avaliado e analisado pelas entidades competentes – são entidades diferentes que estão de cada um dos lados da mesa. No caso de um investimento nacional como é o caso do novo aeroporto, o Estado está sempre do mesmo lado da mesa. De facto, para estes grandes investimentos, deveriam ser criadas duas equipas que tivessem por objecto do seu trabalho montar um projecto autónomo e antagónico em torno do critério mais crítico e relevante, e por objectivos defender a sua “dama” e deitar abaixo a dama da outra equipa. Estou em crer que esta seria uma melhoria naquilo que é hoje o estado da arte do planeamento do território – um processo marginalista assente na avaliação de impacte.
     
  • Está por provar que todos sem excepção estejam a perseguir a solução, quer financeira, quer económica, mais equilibrada para todos os nossos filhos e netos. Nem sempre o bom senso que é um objectivo comummente aceite, é o objectivo de cada um per si. Junto uma foto, publicada recentemente no jornal Público, com uma rotunda que não funciona, mas que é facílimo pô-la a funcionar – falta de bom senso?

    Rotunda

  • Está por provar que Lisboa ceda poder nesta questão, como noutras, se o Norte não se constituir como contra-poder. Mas não podemos ser contra-poder às segundas, quartas e sextas e andar a mendigar às terças, quintas e sábados e ao domingo pedir perdão ao Senhor. Neste caso, a Lisboa, devemos exigir que, no âmbito da privatização da ANA, seja possível ao Norte comprar o Sá Carneiro – Pedras Rubras. Isto é, que a privatização possa ser parcelar. E aí vamos ver a força e a capacidade do Norte, que ultimamente, à excepção de casos pontuais e às vezes chumbados em Lisboa na secretaria, não tem sido de facto posta à prova. É que de discursos e assomos de sapiência está a “mui leal e invicta” farta…

OTÁrio não sou, ainda que esteja a pressentir que me vão obrigar a sê-lo…
Boa saúde.