De: António Alves - "Um ministro incoerente?"

Submetido por taf em Quinta, 2006-04-27 15:09

O Ministro Mário Lino disse ontem na Galiza que a ligação Porto-Vigo em TGV é "prioritária" para Portugal. O Ministro disse também que o interesse de instituições financeiras galegas em financiar o projecto demonstra que é "rentável".

Como a nossa memória não é curta, ainda nos recordamos das declarações, recentes, deste mesmo ministro totalmente contrárias às que agora fez. Das duas uma: ou o ministro e o governo tomaram opções sem estarem devidamente fundamentadas em estudos credíveis, o que só demonstra incompetência e ligeireza na gestão dos assuntos públicos, ou então, o que é mais grave, conheciam as verdadeiras potencialidades de tal empreendimento e mentiram deliberadamente com o intuito de privilegiar uma região do país em detrimento de outra.

Eu pessoalmente acredito que existiu no governo uma clara intenção de benefício da Região de Lisboa e Vale do Tejo em detrimento do país. Para esta região estão projectadas duas ligações ferroviárias a Badajoz: uma de alta velocidade (Lisboa-Badajoz) e outra de mercadorias que ligará Sines a Espanha. Uma inadmissível duplicação de infra-estruturas num país de escassos recursos. Como não haveria dinheiro para tudo sacrifica-se a ligação do Norte. Apesar de ser evidente o grande interesse económico, social e estratégico que a Linha Porto-Vigo terá tanto para a Região Norte como para Portugal. É sintomático que para este empreendimento já tenha aparecido quem esteja disposto a financiá-lo e para a ligação Lisboa-Badajoz, até agora, ainda ninguém "se tenha chegado à frente". O traçado desta última ligação não tem qualquer interesse tanto para o Norte de Portugal como para a Galiza. Por ali Madrid fica demasiado longe. É um projecto feito à medida do umbigo de do centralismo lisboeta: medíocre e cheio de cotão. O centralismo madrileno é muito mais inteligente: com este traçado transforma Lisboa numa capital de província.

Uma ligação ferroviária de alta velocidade a Madrid, para não alienar o mercado de 8 milhões de pessoas, que é o somatório dos mercados galego e do norte de Portugal, teria que ser construída pelo menos uns 100 km mais a norte.

O Norte de Portugal, para singrar, terá que se libertar das vistas curtas do centralismo e do seu próprio paroquialismo municipalista. Só um modelo político administrativo que dê às Regiões autonomia política e orçamental para elas próprias determinarem e gerirem os investimentos que lhes são importantes é que poderá ser um veículo para o desenvolvimento equilibrado deste (por enquanto) país.

A tão discutida regionalização não será suficiente: o seu tempo já passou. Só uma autonomia política, orçamental e fiscal do género das insulares, acompanhada duma reorganização do mapa municipal, poderá ser uma solução satisfatória.

António Alves