De: Rui Valente - "Lamechices"

Submetido por taf em Sexta, 2007-03-23 14:46

Normalmente, quando as pessoas se sentem demasiado incomodadas com as lamechices da vida a ponto de não verem os telejornais, mesmo descontando os incontornáveis exageros mediáticos, é bom sinal, mas é bom sinal apenas no singular. É sinal que a sua vida pessoal é bastante confortável e que a conta bancária ainda vai dando para pagar os custos das asneiras acumuladas ao longo de décadas pelos nossos políticos sem lhe causar grande mossa. Ainda bem para essas pessoas. Mas esse não é o mundo de toda a gente, nem sequer o mundo da maioria dos portugueses. Esse também não é o mundo do homem a quem tiveram a coragem de enviar um cheque traçado de 61 cêntimos e que não tem de compreender a mentalidade do funcionário público. Afinal, o funcionário público não é mais do que o rosto do Estado.

Os conformismos castram a evolução, e afirmar que temos evoluído muito é, no mínimo, ser pouco exigente e dar carta branca ao Estado para continuar a relaxar. O conceito de evolução é tão discutível quanto variável, mas só é equilibrado se for visto de um modo generalizado e não pontual. Um dos problemas comuns em Portugal é começarmos a aplaudir o artista antes dele começar a representar.

Vejamos:

  • - A saúde está agora bem em Portugal?
  • - A educação?
  • - A economia está forte?
  • - O emprego está a aumentar?
  • - A cultura La Fériana é sinal de evolução?
  • - Portugal está mais descentralizado?

Não serei portanto eu que aplaudirei antecipadamente qualquer governação sem conhecer os resultados do seu trabalho. Outros, antes muito elogiados, também não conseguiram deixar rastos significativos da sua bondade, o que é a maior prova da sua superficialidade.

Todos nos enganamos, mas por acaso eu até fui daqueles que desde logo não acreditou nas promessas dos políticos de descentralizar o país, porque não preciso que me arranquem a carteira do bolso duas vezes para me sentir roubado. Por isso, convenhamos, ainda tenho margem de manobra para me enganar.

Rui Valente