De: Rui Encarnação - "Danos Colaterais"

Submetido por taf em Quinta, 2007-01-11 18:58

A colateralidade é, efectivamente um problema de quem não se centra e concentra no que verdadeiramente importa. Como diz, e bem, a Cristina Santos, os bairros sociais são efectivamente um manancial de notícias inesgotável e que merecem uma investigação séria e aprofundada.

Só me permito alertar dos perigos de ser efectuada qualquer investigação jornalística sobre os mesmos. É que qualquer abordagem sumária das condições habitacionais dos bairros e, principalmente, das sociais vai redundar em resultados que não vão ser nada simpáticos para a autarquia. Basta olhar com atenção para S. João de Deus ou passar de manhã, de tarde ou à noite no Aleixo, para concluir que não são só as paredes e as pinturas, isto para aqueles que tiveram direito a renovação, que permitem resolver, minimizar ou sequer atenuar a degradação social e humana que neles se verifica e assiste.

Isso apenas uma política séria, sustentada, contínua e consistente de acção e integração social e de desenvolvimento educacional e cultural assegura. Mas isso é exactamente o que não temos na nossa cidade. Para além da infeliz novela dos arrumadores, que passaram de “gente a erradicar” a sujeitos de uma suposta acção social, alguém mais viu qualquer coisa feita na cidade com consistência?

É por isso que uma investigação jornalística sobre os nossos bairros redundaria numa queixa às Autoridades da Comunicação Social, em desmentidos e não em discussão e diálogo, aberto, franco e produtivo sobre os problemas e sobre as soluções. Mas esse é mesmo um dano colateral, pois o dano directo é sofrido por quem vive e sobrevive nos bairros – e nestes não vejo SRU nem outras entidades de nome abreviado.

Dano directo é assistirmos à especial que atenção é votada pela CM do Porto aos media e ao que os media dizem, e não à cidade. Talvez o problema se resolva com a celebração de protocolos entre a autarquia e os media contendo aquela cláusula famosa, a dos subsídios. Não era uma excelente ideia? Talvez, depois disso, os jornalistas pudessem fazer o seu trabalho – que é noticiar – e os autarcas o seu – governar e trabalhar.

Rui Encarnação