De: Cristina Santos - "Salas de injecção assistida II"

Submetido por taf em Quinta, 2007-01-04 12:09

Concordando em absoluto com a proposta da autarquia para a criação de salas de injecção assistida e com a opinião de David Afonso já aqui expressa, venho relembrar o seguinte.

Há uma necessidade urgente de acompanhar os doentes «in loco», rastrear doenças, medicar e auxiliar. As associações como Porto Feliz só integram e reabilitam aqueles que têm vontade para tal, e como todos sabemos uma das principais maleitas da toxicodependência é ausência total de vontade ou reacção a estímulos sociais. A Associação Norte Vida limita-se a trocar seringas, a emalar doentes ou mortos vivos e transportá-los à unidades médicas, se assim não fossem não seria o Aleixo um inferno onde homens e mulheres permanecem à vista de todos apresentando feridas graves, imobilidade física, tuberculose, HIV, hepatites e outros congéneres que prejudicam os próprios, a família, os habitantes e a sociedade em geral.

Noutros países onde a doença já matou milhares de jovens, não há esperança efectiva na recuperação de grande parte dos doentes, há esperança em minimizar-lhes o sofrimento, e em prol disso minimizar todos os efeitos sociais que daí advêm. Nesses locais não existem só salas de chuto, existem também carrinhas de chuto e todo o tipo de apoio que possa ajudar a sociedade a obter dados relativos à doença, ao controle de epidemias, etc.

Há muito tempo que é necessária uma unidade de intervenção permanente em Bairros como o do Aleixo, não se justifica que moradores, crianças e famílias sejam sujeitos à convivência com a doença e todos os surtos epidémicos que a acompanham. Uma boa parte dos doentes nem sequer consegue abandonar as imediações do Bairro, fazem pequenos serviços para os traficantes, não vão ao médico e quando enfermos são retirados muitas vezes já sem vida, deixando para trás um surto epidémico que acaba por matar em pouco tempo a vítima que ocupar o lugar onde dormia a anterior.

È com certeza preferível que exista um local controlado, com regras, situado no local de consumo habitual, onde os toxicodependentes possam obter apoio médico diário. Desde que existem os CAT as consequências deste fenómeno diminuiram, existem unidades dessas em zonas privilegiadas a quilómetros dos locais de consumo, até à data a reclamação da permanência de toxicodependentes nesses locais não levantou questões de maior, antes pelo contrário regulou e educou os hábitos.

Acresce que não faria sentido criar uma sala de chuto onde os toxicodependentes não praticam os actos, como todos reconhecem, poucos serão os doentes que com a droga na mão caminham mais do que 500 metros para a ingerir. As salas de injecção assistida acarretarão também uma diminuição da venda nos locais, ou pelo menos diminuirão a visibilidade e o à vontade com que é feito o negócio em Bairros como o Aleixo.

Por tudo isso, pelos doentes, pelas suas famílias e pela sociedade em geral, considero que não se deve perder nem mais um minuto na aprovação dessa iniciativa, é urgente, deve ser posta em prática não só no Aleixo mas também em outros locais, seria até de louvar uma unidade móvel para o São João de Deus.
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Nota de TAF: em minha opinião, caso não haja alternativa realista e eficaz às salas de chuto, então que se torne legal o consumo de droga (mas não o tráfico, evidentemente). Não faz sentido o Estado por um lado proibir, e por outro criar condições para a prática do suposto crime...