De: Alexandre Gomes - "A propósito de aeroportos... E de obras, só com arquitecto!"

Submetido por taf em Quarta, 2006-11-22 09:46

Meus caros

Aquando do meu regresso de Luanda em Setembro passei uma semana por aí, entre o Porto e Castro Daire, terra de família. Pausa para habituação, pode-se dizer.

Alguns se lembrarão como choveu nesse final de mês. Eu embarquei para cá a 22 e fazia um mau tempo tremendo. Ao chegar ao meu lugar na cabine – em C, por direito inalienável – ia ensopado!

Por duas razões, uma, a ver com o desenho da nossa nova aerogare, e outra, com uma noção de economia da então SN Brussels Airlines que, obviamente, já antevia a sua fusão com a Virgin Express, que efectivamente se veio a verificar, tendo a primeira largado o «SN» do seu nome e as duas adoptado um novo símbolo em vez do fumegante «S» de outrora. Bem, adiante.

Como vos dizia, ao chegar ao aeroporto chovia a potes. Eu conduzia e era acompanhado pela minha Mãe, senhora de orgulhosos oitenta aninhos, que regressaria a casa tão logo nos despedíssemos. Eu saio, retiro as malas do carro, e preparo-me para a despedida, como em tantas outras ocasiões mas a senhora, ao tentar abrir a porta do seu lado – o do passageiro – nota como que uma cachoeira que lhe entra carro a dentro e lhe molha o braço e mão. Volta a fechar-se e começa a difícil tarefa de se mover para o lado do condutor sem sair do carro! Eu próprio enfrento pela quarta vez a dita cortina de água (três malas, mais a despedida) ao fim do que estou já bastante, digamos, desarranjado e pouco contente!

Ora, quem desenhou e da aerogare achou por bem – não deve nem ter pensado nisso, essa é que é essa – fazer o remate redondo da cobertura de maneira a que a água da chuva role por ela abaixo até que a gravidade a obriga a largar o metal de que aquela é feita e cai em cascata de alto precisamente no local onde se abrem as portas dos passageiros dos carros que os trazem para embarcar. Tive a oportunidade de observar nos poucos minutos que por aí pairei que outros desavisados havia que, como eu, paravam no sítio de maior incidência do dito fenómeno. Outros, no entanto, mais avisados, estacionavam mais a meio da via dupla para o evitar. Em dias mais movimentados, mai-la polícia pelo meio a forçar os infelizes a estacionar convenientemente, isto é debaixo da torrente, eu imagino o resultado.

Como e possível, com um clima como o nosso em que há tanto sol e tanta chuva? A mim dá-me a impressão, vista a rapidez com que o projecto apareceu quando foi decidido fazer as obras, que alguém foi lá ao catálogo dos aeroportos e pegou num dos projectos originalmente previstos para os Emirados Árabes Unidos...

A segunda parte da minha húmida saga deveu-se ao facto de a dita SN ter decidido poupar nas mangas e nos autocarros – assim nos foi dito pelo constrangido pessoal de terra que a serve – tendo os passageiros que marchar os cerca de 100 metros até ao avião debaixo do dilúvio a que atrás referi.

A diferença aqui é que os erros de uma companhia privada são lá com eles, arriscam-se a perder a clientela e podem sempre voltar atrás à sua custa. Agora o aeroporto, construído com dinheiros públicos…

Abraços,
Alexandre Borges Gomes
Bruxelas