De: F. Rocha Antunes - "Para acabar de vez com a cultura?"

Submetido por taf em Quinta, 2006-11-02 13:16

Meus Caros

A defesa dos interesses de cada um é uma das formas mais efectivas de participação na vida da cidade. Tenho apreciado a determinação com que muitos dos interessados em ocupar o Rivoli com os mais variados tipos de "performance" se têm expressado.

Eu nunca percebi para que serve o Ministério da Cultura. É seguramente uma limitação minha, porque acho tão estranho existir um Ministério da Cultura como acharia estranho se existisse um Ministério do Civismo ou um Ministério da Liberdade. Mas se há alguma coisa para que devia servir era para ajudar a que fossem convenientemente usados espaços para todos os tipos de expressões colectivas que se dedicassem à importantíssima tarefa de nos entreter convenientemente.

Há várias salas de cinema fechadas nesta cidade que poderiam ser utilizadas por todos os grupos de artistas nisso interessados e tenho a ideia que a tal organização estatal que se encarrega destas matérias, o dito Ministério da Cultura, poderia arrendar a preços simbólicos aos infelizes proprietários desses mesmos espaços e de seguida disponibiliza-los-ia de forma igualmente acessivel. Nada custa imaginar a criação de vários circuitos de actuações vanguardistas em que se fosse ensaiando formas de expressão capazes de um dia sairem da marginalidade e evoluirem para um qualquer "mainstream".

A verdade é que quem não queira experimentar assistir a teatro experimental deixou de ter oferta entusiamante e com a provável excepção que justifica a regra (a Palmilha Dentada) não se consegue ir ao teatro a não ser quando uma peça que vem do Brasil sobe uns dias ao Porto. Os tais públicos que tinham sido criados emigraram todos?

Em nome da Cultura já se fizeram coisas estranhíssimas nesta cidade. A que mais me impressionou foi a encomenda que foi feita ao Arquitecto Solà-Morales para aquilo que depois foi baptizado como Edifício Transparente. Há responsáveis por essa encomenda que nunca mais deram a cara para explicar aos seus concidadãos que decidiram pedir ao excelente arquitecto catalão um edifício que se limitasse a fazer o remate entre o verde e o mar. Sim, que assumidamente nunca teria uma função dita útil, quiçá, horror dos horrores, comercial. Isto foi o que foi encomendado, em nome da cultura, claro.

Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário

PS. O título deste post foi roubado a um livro de Woody Alen. "Sem penas" e "Efeitos Secundários" completam a trilogia de escritos humorísticos notáveis desse cineasta americano.