De: José Pedro Lima - "Rivolição - uma história mal contada"

Submetido por taf em Sexta, 2006-10-20 18:07

Agora que parece amornar a Rivolição e lendo o que se vai retratando nos jornais e nos blogs, parece-me que esta história toda surge de algo que está mal contado e pior explicado e que é (são) as razões da privatização da Gestão do Rivoli - e não a privatização do Rivoli. Ou seja, em primeiro lugar há que destacar que o Rivoli não vai ser vendido nem lá vai ser construído nenhum condomínio de luxo ou templo da IURD - simplesmente vai ser transferida a gestão do espaço, após concurso público promovido para o efeito. Aqui provavelmente é que a "porca torce o rabo" porque, pelo que percebi, os "rivolucionários" queixavam-se de:

  • a) as regras do concurso público não serem claras e de este "já estar decidido" (se sim, a favor de quem?). Existem já propostas sem se saberem as regras? Quem souber que me explique...
  • b) o Rivoli ter sido propositadamente esvaziado para que esta situação ocorresse - acusação que é por exemplo veiculada no Arrastão sem que nada o acompanhe a comprovar
  • c) isto tudo se tratar de uma vendetta pessoal da CMP ou da CulturPorto contra a anterior responsável pela programação, aparentemente uma pessoa de valor e reconhecida internacionalmente.

Enfim, isto foi o que eu fui retendo das acusações dos Rivolucionários de dentro ou de fora....

O que eu - que sinceramente de Cultura entendo pouco ou nada - observei objectivamente foi que:

  • a) Os rivolucionários não ultrapassaram as escassíssimas dezenas e todas as manifestações que foram sendo feitas não ultrapassaram a centena de pessoas, incluindo sempre aquele senhor do Bloco de Esquerda, um verdadeiro "Rivolucionário Profissional".
  • b) O público para quem supostamente estes senhores dirigem a sua actividade pouco ou nada se manifestou pese a extensa cobertura mediática do caso. Comparemos isto com as recentes manifestações em Lisboa e estamos conversados....
  • c) Mantém-se - como sempre que algo o contraria - uma atitude autista e arrogante da CMP e de Rui Rio que tem um teatro municipal ocupado durante três dias e nem uma palavra sobre o tema diz. Mais uma vez perante um adversário e uma contrariedade, não se explica, impõe-se. Já se percebeu que o homem é assim, é incapaz de chegar a acordo seja com quem for: Pinto da Costa, Museu Soares dos Reis, Lixeiros ou Rivolucionários. Ou seja as coisas são sempre branco e preto, não há diálogo, não há resolução de problemas, há imposição de posições. Muito pouco e muito fraco para quem tem elevadas responsabilidades políticas mas não resiste a comportar-se sistematicamente como um técnico a quem cabe apenas carregar num botão.

Se as receitas do Rivoli são de facto apenas suficientes para cobrir 6% das despesas e ainda por cima se argumenta que com gestão privada se faz melhor, então alguém - Culturporto ou CMP - tem de responder pela péssima gestão que até agora foi feita. Pessoalmente acredito que a iniciativa privada é bem melhor a resolver problemas que a gestão pública, mas parece-me que passar de 6% para 100%+a margem de lucro, me parece um bocado demais. Ou a gestão pública foi algo desastroso e alguém devia ser responsabilizado, ou então são os privados que serão verdadeiros milagreiros e não apenas bons gestores.
Mais, há de facto espectáculos de qualidade que precisam e precisarão de espaço e é justo que se lhes dê. Não me parece justo que se gastam 11 milhões para isso mas há com certeza aqui um equilíbrio que um bom Presidente de Câmara ao serviço da sua cidade e não da sua teimosia, certamente saberia arranjar.

Concluo que me parece que os Rivolucionários tiveram uma atitude que muito contribuiu para fortalecer a minha opinião pessoal que há uma série de senhores que se julgam donos do que é a Cultura e não estão para tolerar nada que lhes mexa nos privilégios actualmente detidos. Seria boa ideia que alguém da Companhia Rivolucionária - Teatro Plástico, creio - se dispusesse a dizer quanto recebeu de subsídios públicos, locais ou centrais, directos ou sob a forma de cedência de espaço e quantos bilhetes vendeu para os seus espectáculos. Porque se a Cultura não é só lucro, também não é com certeza só subsídio a pseudo-iluminados. Aliás as "peças" que saíram da pena dos Rivolucionários como a poesia ou o comunicado final levam-me a pensar que se calhar o melhor para todos era como sói dizer-se, que se dedicassem à pesca...

José Pedro Lima
pclima@gmail.com

PS: Apenas como nota final e como a música também é cultura, teremos 2 espectáculos consecutivos, que não creio que tenham sido subsidiados, que terão certamente casa cheia na "Baixa": Lloyd Cole dia 23 de Novembro e Violent Femmes no dia anterior. Ambos serão na Batalha. A ver por todos mas talvez mais pelos "thirtysomethings" que provarão que espectáculos de qualidade, ainda que se calhar já um pouco "fora de prazo", têm audiência garantida.